Homilética Vida prática

Preguei Um Sermão Chato!

𝐏𝐫𝐞𝐠𝐮𝐞𝐢 𝐮𝐦 𝐬𝐞𝐫𝐦ã𝐨 𝐜𝐡𝐚𝐭𝐨! Infelizmente não foi a primeira vez e calculo que não será a última, embora eu quisesse nunca mais passar pela experiência. Foi um famoso “sermão espada”, comprido e chato. Durante a pregação eu percebi que o sermão não estava bom e fiquei com aquela sensação ruim. Depois da pregação, no carro, aconteceu a banca familiar de crítica do sermão, e eu fui reprovado por meus filhos e esposa. Durante a semana liguei para o meu pai, e mais uma vez ouvi que o sermão não foi dos melhores (eufemismo). Como é bom ter pessoas que te amam e falam a verdade! Somente meu filho caçula e a minha mãe gostaram (Aliás, se nem a mãe tivesse gostado, a coisa estaria muito feia!).

Resolvi então ouvir o meu próprio sermão e avaliar porque foi um sermão ruim de se ouvir e cheguei a algumas conclusões que apresento a fim de que todos cuidemos para não pregar esse tipo de sermão. Usando a minha experiência como exemplo, quais são os elementos de um sermão chato?

𝐂𝐚𝐧𝐬𝐚ç𝐨: A meu favor, devo dizer que no domingo daquele sermão, eu estava bastante cansado e com os pés doendo muito. Durante a semana eu tive reuniões que foram de manhã até a noite e estava bastante exaurido. Pregador, descanse adequadamente para pregar melhor!

𝐅𝐚𝐥𝐭𝐚 𝐝𝐞 𝐞𝐬𝐭𝐮𝐝𝐨 𝐚𝐝𝐞𝐪𝐮𝐚𝐝𝐨: A correria da semana (e um tanto de desorganização) também me impediu de preparar o sermão adequadamente. Eu fiz o sermão no avião, voltando para a casa no próprio dia de pregar. Pregador, estude!

𝐅𝐚𝐥𝐭𝐚 𝐝𝐞 𝐨𝐫𝐚çã𝐨: Além da falta de estudo, um dos aspectos fundamentais de um sermão fracassado é a falta de oração. Pregador, o poder vem de Deus e não de suas habilidades. Ore!

𝐈𝐧𝐬𝐞𝐧𝐬𝐢𝐛𝐢𝐥𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞: Por insensibilidade, quero dizer que o texto que havia mexido comigo durante a semana era o de Daniel 9, mas eu não quis quebrar a série que estou fazendo no evangelho de Lucas. Olhando em retrospectiva, creio que foi falta de sensibilidade espiritual. Pregador, seja sensível à direção que Deus te aponta!

𝐅𝐨𝐢 𝐦𝐮𝐮𝐮𝐮𝐢𝐭𝐨 𝐥𝐨𝐨𝐨𝐨𝐨𝐨𝐨𝐨𝐧𝐧𝐧𝐧𝐧𝐠𝐨: Alguns dos sermões mais longos que já preguei foram baseados em textos bem curtos. Quando prego textos pequenos, tenho a tendência de achar que estou com tempo de sobra e passo a divagar mais do que o normal. Neste fatídico sermão, eu achei que pregaria 25 minutos e acabei demorando uma hora! Na prática, eu gastei tempo demais com a introdução, com os pontos e subpontos, com as ilustrações, com devaneios exegéticos, teológicos e aplicações generalizadas. Falei demais em cada ponto e usei com liberdade todo tipo de insights, inferências, inferências das inferências… Os meus pontos foram sempre com duas palavras e eu gastei tempo demasiado em cada uma, de forma que o sermão de 4 pontos, virou um sermão de 8 pontos! Pregador, cuidado com o tempo. Na pregação, muitas vezes, menos é mais!

𝐃𝐞𝐬𝐨𝐫𝐠𝐚𝐧𝐢𝐳𝐚çã𝐨: Quando me falaram que o meu sermão foi desorganizado, a priori eu resisti a crítica, pois eu tinha quatro pontos bem definidos! Ao ouvir o sermão, no entanto, percebi que eu divaguei tanto que a estrutura do sermão se tornou imperceptível para quem estava ouvindo e realmente pareceu um amontoado de informações desconexo e sem concatenação. Pregador, gaste tempo organizando o seu sermão e não destrua a organização na hora de pregar. Os pontos devem estar intimamente relacionados à grande ideia. Corte tudo o que puder ser cortado.

𝐈𝐥𝐮𝐬𝐭𝐫𝐚çõ𝐞𝐬 𝐞 𝐚𝐩𝐥𝐢𝐜𝐚çõ𝐞𝐬 𝐠𝐞𝐧é𝐫𝐢𝐜𝐚𝐬: Ao não dedicar tempo adequado para estudar o texto e o sermão, eu acabei por usar ilustrações e aplicações genéricas demais, que não comunicavam adequadamente. Se a ilustração precisa ser explicada, ela é uma péssima ilustração. Se a aplicação se torna um sermão em si mesma, ela não serve. Ouvi que preguei vários “sermõeszinhos” dentro do meu sermão. E o pior é que foi verdade. Pregador, ilustrações devem ser autoevidentes e aplicações devem ser lancinantes!

𝐏𝐫𝐢𝐨𝐫𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐞𝐦 𝐢𝐧𝐟𝐨𝐫𝐦𝐚çã𝐨 𝐞𝐦 𝐯𝐞𝐳 𝐝𝐞 𝐭𝐫𝐚𝐧𝐬𝐟𝐨𝐫𝐦𝐚çã𝐨: Com tudo isso, neste sermão, eu priorizei a informação em vez da transformação; o conteúdo massivo em vez de algo fácil de se levar para casa e claro o suficiente ao ponto de se tentar viver. Pregador, o seu papel não é despejar informações, mas transformar vidas!

Definitivamente, foi um sermão chato (e olha que teve gestos, modulação de voz)! Que bom que a graça de Deus nunca permite que sua Palavra volte vazia e mesmo sermões chatos podem produzir frutos. Mas isso não deve nos deixar tranquilos. Como diz Stuart Ollyott, um sermão chato é um pecado, pois faz as pessoas acharem que a Palavra de Deus é chata! É claro que nem sempre acertaremos, mas nós, pregadores, devemos ter horror de pregar sermões chatos e fazer todo o possível para evitá-los ao máximo! Que o Senhor nos cubra com sua graça e poder e, mesmo em nossas fraquezas, nos use pela sua misericórdia.

Conte nos comentários alguma experiência sua com sermão chato, seja como pregador, seja como ouvinte (mas não dê nomes!).

Para evitar pregar sermões chatos, assista a essas maravilhosas palestras do Stuart Ollyott, ministradas no Seminário JMC: “Pregação Expositiva Reformada – Rev. Stuart Olyott – Sermões Chatos e Como Não Pregá-los”.

Eis o fatídico sermão:

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