Para falar a verdade, o próximo ano provavelmente nem será tão bom assim…
Nós gostamos de pensar que o novo ano será maravilhoso, cheio de conquistas maravilhosas, com estabilidade financeira e sem tragédias naturais e terrorismo. Infelizmente, no entanto, essa esperança não tem fundamento. Ainda que haja um novo partido, a velha corrupção continuará presente. A não ser que Jesus Cristo volte, pessoas descobrirão que tem câncer, novos ataques terroristas acontecerão ao redor do mundo, haverá crianças sequestradas, famosos e anônimos morrerão de overdose, militares e civis serão desfigurados em guerras, famílias serão desfeitas e todas as outras consequências trágicas do pecado continuarão a apresentar as suas garras feias deixando marcas nos corações e na terra.
Esse mundo injusto e louco só faz sentido à luz do livro escrito pelo Criador. Isaías 11 apresenta uma esperança verdadeira para nós. Na época de Isaías 11, Judá ainda vivia sob o reinado de Acaz, um rei caprichoso, idólatra e injusto (veja 2 Reis 16 e 2 Crônicas 28). A necessidade de pagar a dívida com a Assíria gerava ainda mais injustiça social: os pobres eram cada vez mais oprimidos e o socorro era buscado nas nações vizinhas e Deus ficava cada vez mais distante do seu povo.
Esse texto começa no verso 10.33 com a expressão “הִנֵּ֤ה” (eis) e segue até o verso 11.8 com ininterruptos “וְ” (e, mas). Apenas no verso 9, conclusivo, essa estrutura muda. Os versos 11.10-11, começam com a expressão וְהָיָה֙ בַּיֹּ֣ום הַה֔וּא (e acontecerá naquele dia). As divisões foram feitas com base na mudança de assunto: Is 10.33-34: usa metáforas extraídas da agricultura e tem Yahweh como sujeito causador (não necessariamente com relação às pessoas verbais). 11.1 a 5: são uma descrição do rebento, nascido como fruto da poda anterior, sendo ele sempre sujeito ou objeto dos verbos. 11.6 a 9: após um “וְ” consecutivo descrevem um estado de harmonia que imperará a partir do reinado do rebento. As divisões do texto são:
1 A intervenção de Yahweh, o grande agricultor (10.33-34)
2 A capacidade real do rebento de Jessé (11.1-5)
3 Shalom em decorrência do conhecimento de Yahweh (11.6-9)
1 A INTERVENÇÃO DE YAHWEH, O GRANDE AGRICULTOR (10.33-34)
A grandeza desta cena descrita por Isaías só pode ser sentida olhando para a cena anterior:
ARA |
Bíblia de Jerusalém |
28 A Assíria vem a Aiate, passa por Migrom e em Micmás larga a sua bagagem. 29 Passa o desfiladeiro, aloja-se em Geba, já Ramá treme, Gibeá de Saul foge. 30 Ergue com estrídulo a voz, ó filha de Galim! Ouve, ó Laís! Oh! Pobre Anatote! 31 Madmena se dispersa; os moradores de Gebim fogem para salvar-se. 32 Nesse mesmo dia, a Assíria parará em Nobe; agitará o punho ao monte da filha de Sião, o outeiro de Jerusalém. | 28 Ele chegou a Aiat, passou por Magron, em Macmas depositou a sua bagagem. 29 Passou a desfiladeiro, Gaba será o nosso acampamento noturno, Rama estremecveu, Gabaá de Saul fugiu. Ergue a tua voz, Bat-Galim, toda atenção, ó Laísa! Responde-lhe, ó Anatot! 31 Madmena fugiu; os habitantes de Gebim procuraram abrigo. 32 Ainda hoje, detendo-se em Nobe, meneará a mão contra o monte da filha de Sião, contra o outeiro de Jerusalém. |
Sendo um texto de difícil preservação, tradução e interpretação, existem algumas traduções/interpretações diferentes possíveis. Fica claro, no entanto, que, seja quem for que está fazendo esta entrada em território de Israel/Judá, seja o Exército Assírio ou o próprio Yahweh [através do exército assírio], quem quer que seja, está se aproximando de Sião de forma mui rápida e violenta. As cidades Aiate, Migrom, Micmás, Geba, Rama, Gibeá, Galim, Laís, Anatote, Madmena, Gebim e Nobe estão cada vez mais perigosamente próximas de Sião, nenhuma consegue resistir a entrada do exército assírio, então, este se prepara para a próxima investida militar: balança os pulsos para ceifar Sião.
Essa passagem pregada em Jerusalém tem o efeito de um barulho longínquo e até agradável, enquanto o território atingido pertence aos inimigos de Israel. O problema é que o barulho vai se tornando cada vez mais incômodo e próximo até ao ponto de ser insuportável e amedrontador. É como a notícia de um furacão que se forma no oceano e vai se aproximando cada vez mais de uma cidade grande deixando destruição por onde passa. Assim estavam os habitantes de Jerusalém frente ao exército assírio: havia angústia, desespero e senso de impotência. Haveria ainda alguma possibilidade de salvação?
33 Mas eis que o Senhor, o SENHOR dos Exércitos,
A NVI traduz assim: Vejam! O Soberano, o Senhor dos Exércitos… Não dá para minimizar o sentimento transmitido por essa frase. Como crianças que vem o próprio pai libertar a família das mãos de ladrões violentos, de forma ainda mais dramática, Isaías mostra a entrada de ninguém menos do que Adonai Yahweh Tsebaot, O Senhor Yahweh dos Exércitos, o único com poder para resistir e vencer o grande e temível inimigo assírio.
cortará os ramos com violência, as árvores de alto porte serão derribadas, e as altivas serão abatidas. 34 Cortará com o ferro as brenhas da floresta, e o Líbano cairá pela mão de um poderoso.
Na descrição do livramento de Adonai Yahweh Tsebaot, Isaías volta a utilizar uma metáfora muito presente no seu livro: a do Agricultor. Deus é o grande agricultor, os países são florestas, e ele, Yahweh, segundo o seu poder e sabedoria, poda, derruba e deixa brotar. Israel é vinha consumida por seus próprios líderes (Is 3.14) e destruída em disciplina por Yahweh (Is 1.30; 5.1-7). A Assíria é machado nas mãos do Senhor para disciplinar a floresta de Israel (Is 10.15), mas também será floresta queimada por causa do seu próprio orgulho (Is 10.18-19).
Assim, é neste contexto literário que os versos 10.33 e 34 comparam a poderosa nação assíria com seu temível exército a galhos (ramos), árvores altas e a uma floresta em que o Senhor entra como um poderoso e violento agricultor, que, com seu afiado instrumento faz a poda, cortando, derrubando e abatendo as árvores orgulhosas. Quais clarões vistos na floresta amazônica, assim o grande agricultor transformará a floresta chamada Assíria. Qual é o saldo desta violenta poda? Como a NVI coloca: “O Líbano cairá diante do Poderoso”.
O próximo ponto apresenta o resultado dessa poda da Assíria para Israel:
A CAPACIDADE REAL DO REBENTO DE JESSÉ (11.1-5)
1 Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo.
Após Israel ter sido quase totalmente destruída pelo exército assírio que como um machado fez a derrubada da vinha do Senhor, agora, do meio da destruição começa nascer a esperança. Um ramo, um broto, um renovo cuja origem é a mesma do grande rei Davi. Um segundo Davi! Não nascido de uma família real corrompida, mas da mesma fonte de Davi. A esperança trazida por este verso pode ser comparada à de Noé quando viu a folha de oliveira no bico da pomba. Renascimento após destruição. Ainda havia esperança.
Os próximos versículos apresentam uma descrição da capacidade real do rebento do tronco de Jessé.
2 Repousará sobre ele o Espírito do SENHOR, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR.
Além de ter uma linhagem real pura, o rebento seria ungido não apenas com óleo, mas de uma maneira ainda não vista, seria ungido com o sétuplo Espírito Santo de Deus:
- Espírito de Yahweh: a terceira pessoa da Santa Trindade.
- Espírito de Sabedoria – aquele que dá capacidade de agir adequadamente em diferentes situações.
- Espírito de Entendimento – profundo conhecimento quanto a eventos e pessoas necessários para o bem governar
- Espírito de Conselho – capacidade de para fazer planos (cf. Is 9.6)
- Espírito de Força – poder de executar planos
- Espírito de Conhecimento – aquele conhecimento de amor e experiência de relacionamento com Yahweh.
- Espírito de Temor de Yahweh – muito diferente do atual rei Acaz, é prometido que este rei vindouro teria plena comunhão com Deus.
3 Deleitar-se-á no temor do SENHOR; não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos;
Tendo o Espírito de uma maneira completa, o novo rei teria capacidade plena para fazer justiça. É este o assunto mais enfatizado nessa apresentação do renovo: sua capacidade e competência para julgar corretamente. Por causa do Espírito, não haveria necessidade de confiar apenas nos sentidos humanos.
4 mas julgará com justiça os pobres e decidirá com eqüidade a favor dos mansos da terra;
Ao invés de pender para os ricos e poderosos, tendência comum nos líderes, este rei, no poder do Espírito, faria justiça aos pobres, necessitados, fracos e mansos da terra.
ferirá a terra com a vara de sua boca e com o sopro dos seus lábios matará o perverso.
E como justiça não é feita sem punição, com Espírito de poder este rei tem plenas condições de julgar justamente, condenar e fazer valer as sentenças aos perversos e ímpios, exterminando-os.
5 A justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade, o cinto dos seus rins.
O cinto era, para as vestes bélicas da época, aquele que enfeixava as demais roupas e também o protetor dos órgãos considerados vitais. Portanto, numa época que padecia a falta de governantes justos, este renovo da raiz de Jessé teria na justiça e na fidelidade suas mais importantes atitudes como rei. O que um reino como esse traria como resultado:
SHALOM (PAZ) EM DECORRÊNCIA DO CONHECIMENTO DE YAHWEH (11.6-9)
6 O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. 7 A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. 8 A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco.
Quem olha a descrição do rei feita nos versículos 11.1-5 espera um reino justo onde os desamparados recebem justiça. O que os versículos 11.6-9 apresentam, no entanto, perpassa em muito aquilo que um rei meramente humano poderia fazer: shalom de amplitude cósmica. A palavra hebraica shalom não aparece no texto, mas, ainda assim, é impossível não vê-la presente em ação.
O reino do rebento será tão justo e reto que até os animais mais próximos e antagônicos na cadeia alimentar, viverão juntos em harmonia. Até os animais mais carnívoros violentos vão pastar juntamente com seus antigos pratos prediletos.
Crianças brincarão entre os filhotes e até mesmo a cobra, responsável direta pela queda humana, nenhum mal fará ao menor ser humano que invadir a sua cova com a mão.
O que temos nesse texto é uma apresentação de um reino perfeito, um paraíso, a restauração do Éden. Isso não aconteceu na época de Isaías, mas se tornou uma esperança vindoura para o povo de Deus. “Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça.” (2 Pedro 3.13)
9 Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar.
Como conclusão e explicação da shalom cósmica descrita nos versos 6 a 8, a profecia se conclui com a promessa de que em todo o monte do Senhor haverá conhecimento do Senhor. Sião, Jerusalém, a habitação de Yahweh, de onde sai a Torá para todos os povos (cf. Is 2.1-4; 7.25; 8.18; 10.12) espalhará o conhecimento de Deus pelo mundo todo.
A causa de tudo isto é que o Rei, sobre o qual repousa os 7 Espíritos de Deus (dentre os quais sabedoria, entendimento, conselho, conhecimento e temor) causará que a terra se encha do conhecimento de Yahweh (aquele conhecimento no sentido hebraico do termo, conhecimento de amor, experiência própria, deleite) como as águas cobrem o mar.
Conclusão
Os primeiros ouvintes desta profecia estavam sob o reinado injusto de Acaz, e as conseqüências de tal reinado eram total ausência de paz e constante iminência de guerra. A injustiça social era presente, até mesmo pela necessidade de pagar a Assíria para obter o apoio na guerra contra Israel e Síria.
O nascimento do reformador Ezequias e a maravilhosa vitória na guerra contra os assírios estando às portas de Jerusalém (cf. 2 Crônicas 32.21-23) foi um grande cumprimento deste texto para os seus primeiros ouvintes. No entanto, como o próprio texto deixa transparecer, estas qualidades reais apontavam para alguém ainda maior que Ezequias.
Cristo é o perfeito cumprimento desta profecia: oriundo da raiz de Davi (e Jessé – Apocalipse 5.5; 22.16), Jesus é aquele que foi capacitado de maneira perfeita e completa pelo Espírito de Deus (Apocalipse 3.1; 5.6, Mateus 3.16). Jesus foi aquele que julgou muitos em sua época, não pela aparência de profundidade religiosa ou fama, mas porque lhes conhecia os pensamentos (Mateus 9.4; 12.25; 22.18). Jesus Cristo, o Senhor, é também aquele que virá, para julgar os vivos e os mortos com justiça e então instaurar para sempre um reino de shalom (Apocalipse 20.11 a 22.5).
Não espere um 2016 perfeito. A não ser que Jesus Cristo volte para instaurar um reino perfeito, 2016 continuará tendo corrupção, injustiça social, tragédias e mortes. Nenhum governante terreno pode mudar o verdadeiro problema humano, o pecado e suas consequências.
Assim, devemos olhar para Jesus Cristo como o único que realmente pode mudar a situação do nosso País. Jesus é a solução pois ele tem origem real, exerceu sua obra no poder do Espírito e voltará. Julgou e julgará com perfeita justiça e verdade, e não segundo os falhos sentidos humanos. Cristo, aquele que venceu e voltará para reinar sobre essa terra restaurada, deve ser a nossa única esperança de restauração do mundo inteiro, não somente para os homens, mas para toda a natureza que geme e suporta angústias (Rm 8.22) esperando este momento.
Viva de tal forma a antecipar esse reino vindouro: conheça o Senhor Jesus, viva de forma justa, desfrute da paz de Cristo e, em meio à injustiça, tenha esperança verdadeira que nunca se frustrará, e no tempo certo virá o reino. Então “O lobo habitará com o cordeiro, e o leopardo se deitará junto ao cabrito; o bezerro, o leão novo e o animal cevado andarão juntos, e um pequenino os guiará. 7 A vaca e a ursa pastarão juntas, e as suas crias juntas se deitarão; o leão comerá palha como o boi. 8 A criança de peito brincará sobre a toca da áspide, e o já desmamado meterá a mão na cova do basilisco. 9 Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, porque a terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar.” (Isaías 11.6-9)