graça a vós outros e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo (1 Coríntios 1.3).

          Em todas as suas cartas Paulo saúda os destinatários com graça e paz. Foi o próprio Paulo quem criou essa saudação, transformando o tradicional saudações (grego) e  paz (hebraico) em uma saudação eminentemente cristã: graça e paz.

Poucas pessoas na história da língua grega da época mudaram essa saudação, e aqueles que o fizeram, como Platão e Epicuro, tiveram o objetivo de comunicar a sua filosofia de forma encapsulada. Paulo, por sua vez, ao saudar com graça e paz comunica a sua teologia de forma comprimida: é a graça de Deus Pai e de Cristo que trazem paz àquele que crê. Em suma, o único caminho para a paz é ser alvo e recipiente da graça de Deus.

Mas, que graça e paz são essas? O Antigo Testamento dava mais ênfase na palavra misericórdia do que em graça. Isso mudou no Novo Testamento por causa de Paulo. Para Paulo tudo na vida cristã começa e se sustém pela gaça. Ele vê a si mesmo como alguém salvo pela graça e chamado para o apostolado pela graça. Os homens nascem espiritualmente mortos e são marionetes nas mãos do mundo da carne e do diabo e só podem sair dessa situação se a graça de Deus operar dando-lhes vida. A santificação de cada cristão também depende da graça soberana de Deus. Sendo assim, ao iniciar (e terminar) as suas cartas com graça, Paulo está comunicando aos cristãos que tudo na vida cristã inicia-se e se mantém por uma ação bondosa inicial de Deus e de Cristo. E qual é a conseqüência da ação da graça?

A saudação paulina responde dizendo: paz. O conceito paulino de paz abrange reconciliação com Deus e entre os seres humanos. O resultado de alguém receber graça da parte de Deus é que tal pessoa deixa de ser alvo da ira santa de Deus e passa a ser alvo do seu amor. Uma vez que a graça opera e a obra de Cristo é considerada em favor de alguém, este alguém é visto por Deus em Cristo, como alguém justificado e consequentemente como um filho amado. A graça conduz à reconciliação (paz) com Deus e também à reconciliação (paz) entre os seres humanos. Uma vez que pessoas e povos inimigos sejam reconciliados com Deus em Cristo, é possível que tais pessoas e povos vivam em harmonia (paz) uns com os outros. O muro da separação é derrubado e pode haver verdadeira unidade cristã onde antes reinava ódio ou indiferença. Essa paz com Deus e com o próximo propicia que a pessoa viva em paz consigo mesma. Ademais, todos os que são alvos da graça, passam a aguardar o dia em que toda a criação será novamente harmônica e que a shalom (paz) de Deus vai se instaurar para sempre.

Como esses conceitos de graça e paz deveriam funcionar para com os coríntios? Os coríntios eram extremamente seguros de si mesmos e desunidos. Eles se achavam uma classe especial de cristãos (“os espirituais”) e eram divididos por causa de qualquer assunto. A graça deveria movê-los a uma atitude humilde de saber que tudo o que tinham e eram dependia de uma ação soberana anterior de Deus. Nada era deles mesmos, tudo vinha do Pai e de Cristo. E esse senso de humildade deveria conduzi-los à unidade. Uma vez que todos eles foram alvos da mesma graça, deveriam deixar as divisões e opiniões próprias de lado e buscar a unidade oriunda da graça, deveriam viver em paz uns com os outros.

          Você também recebeu graça e paz. Seja humilde e grato a Deus pela sua graça. Continue dependendo dela para crescer na fé e usufrua um relacionamento íntimo com Deus que vem de uma consciência de estar em paz com ele. Viva em paz com seus irmãos em Cristo, buscando a construção da verdadeira unidade em Cristo.

Oração: Senhor, obrigado pela graça que nos garante paz contigo e uns com os outros. Em nome de Jesus, aquele em quem a justiça e a paz se beijaram, amém.

João Paulo Thomaz de Aquino