Chamado Pela Vontade de Deus (1 Coríntios 1.1)
Paulo, chamado pela vontade de Deus para ser apóstolo de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes (1 Coríntios 1.1)
Quando Paulo escreveu esta carta para os cristãos coríntios, muitas coisas já haviam acontecido no relacionamento entre eles: (1) Paulo havia plantado aquela igreja em sua 2ª viagem missionária, ficando na cidade, mas de um ano e meio (Atos 18); (2) Paulo e os coríntios já haviam trocado cartas entre si (1Co 5.9 e 7.1); (3) Paulo recebeu notícias dos coríntios por meio de outras pessoas (1Co 1.11) e (4) enviou Timóteo para ver a situação dos coríntios (1Co 16.10-12; Atos 19.22). Assim, quando lemos 1 aos Coríntios, temos que entender que ela evidencia a continuação de um relacionamento e de um diálogo que já existiam entre Paulo e aqueles irmãos.
Existiam alguns problemas na Igreja de Corinto quando Paulo lhe escreveu. Os mais básicos desses problemas eram uma concepção muito elevada de si mesmos – eles se achavam mais espirituais que os demais cristãos; eram muito orgulhosos – e uma concepção errada do corpo – eles eram influenciados pelo dualismo grego, pensando que o corpo era mal e o espírito bom. Nesse contexto surgiram vários desvios de caráter que Paulo visa corrigir por meio da carta: divisões (1.10—4.21), imoralidade sexual (5.1-13 e 6.12-20), irmãos se processando em tribunais incrédulos (6.1-11), problemas no casamento (7.1-40), problema com comida sacrificada a ídolos (8.1—11.1), dificuldade de entender os propósitos dos dons espirituais (12.1—14.40), descrença na ressurreição do corpo (15.1-58). Paulo também os instrui acerca da coleta para os irmãos de Jerusalém (16.1-11). Algo que também fica evidente na leitura dessa carta é que os coríntios estavam questionando a autoridade de Paulo, problema que que se agravou depois desta carta.
Pode-se constatar essa dificuldade relacional de alguns coríntios com Paulo na parte da carta que fala sobre a divisão entre os coríntios. Ali Paulo afirma que existiam vários partidos na igreja, sendo um de Paulo, um de Apolo, um de Cefas e outro de Cristo (1Co 1.12). Paulo também tem que lembrar-lhes que ele é o seu único pai em Cristo Jesus (1Co 4.15) e que ele não usou linguagem mais rebuscada porque não quis esvaziar a cruz de Cristo e não por incompetência (1Co 2). O apóstolo desafia os ensoberbecidos, perguntando-lhes se querem que lhes visite com vara ou em espírito de mansidão (4.19). É neste contexto de desafio a autoridade do apóstolo Paulo que devemos ler o primeiro verso da carta aos Coríntios.
Nem sempre Paulo apresenta-se como apóstolo em suas cartas. Por exemplo, nas cartas a Filemom, aos Filipenses e aos Tessalonicenses, Paulo dispensa o uso do título logo em sua apresentação, pois eram igrejas que não questionavam a sua autoridade, pelo contrário, eram igrejas e irmãos que admiravam e apoiavam o ministério de Paulo. Agora, para aquelas igrejas que tinham dificuldades de aceitar a autoridade paulina, ele se define logo no primeiro verso da carta como apóstolo (veja Gálatas 1.1, 2Coríntios 1.1 e Romanos 1.1).
Assim sendo, quando Paulo se apresenta como aquele que foi chamado pela vontade de Deus, ele está lembrando os seus ouvintes de que sua autoridade não é baseada nele mesmo, mas no Deus que o chamou para ser apóstolo. Além de chamado por Deus, Paulo também afirma ser um apóstolo de Jesus Cristo. Ou seja, os coríntios devem receber Paulo não pela sua oratória ou sabedoria particular, mas porque ele é um homem que foi escolhido por Deus para ser enviado (este é o significado da palavra apóstolo) como alguém que representa e fala oficialmente em nome de Jesus Cristo.
Paulo acrescenta como co-autor da carta o irmão Sóstenes. Este é provavelmente um homem que era um dos líderes da sinagoga de Corinto, mas quando se converteu foi perseguido e espancado (Atos 18.17). Sendo homem fiel a Deus ao ponto de ser espancado, Paulo achou por bem colocá-lo como co-remetente, visando acrescentar a autoridade do irmão coríntio Sóstenes à carta enviada aos coríntios.
Qual lição podemos extrair deste verso da palavra de Deus? Todos nós devemos aprender que os líderes espirituais que Deus coloca sobre nós devem ser respeitados e ouvidos. Frise-se, no entanto, que não estamos falando de qualquer pessoa que tome para si a honra da liderança, mas daqueles que realmente são chamados por Deus para o serviço a Cristo. Estes devem ser merecedores de nossa atenção e cuidado (Hb 13.7, 17; Gl 6.6; 1Tm 5.17).
Quanto àqueles que tem sido chamados por Deus para servirem, esses são ensinados por esse texto que só tem o direito (e às vezes o dever) de exigir respeito à sua autoridade, caso estejam se portando como servos de Cristo e dentro dos parâmetros daquilo para o que foram chamados pelo próprio Deus para fazer.
Oração: Senhor, obrigado pelos líderes que o Senhor tem dado a sua Igreja. Ajuda-nos a os termos em alta conta, a respeitá-los como servos teus e ouvirmos a tua voz por meio deles. Ajuda tais líderes a serem fiéis a ti, a terem consciência de sua vocação e do ministério (serviço) para o qual o Senhor mesmo os chamou. Ajuda-nos como igreja, líderes e cristãos em geral, a nos submetermos ao ensino dos apóstolos do Senhor Jesus. Em nome dele, Jesus, Amém.