Vida prática

Um Caso de Crise Conjugal: Sessão 2

João Paulo e Juliana Thomaz de Aquino[1]

Uma semana se passou.[2] Valéria e Otávio vieram para a segunda sessão com Renato, o conselheiro bíblico que os estava ajudando em sua crise matrimonial. Valéria havia feito todas as tarefas (devocionais e leituras), Otávio falhou em algumas. Eles relataram que a semana foi um pouco melhor e que conseguiram conversar um pouco mais, mas no dia anterior tiveram uma briga muito feia.

Renato perguntou o motivo da briga. Otávio disse que o ciúmes de Valéria havia gerado a briga. Valéria, por sua vez, disse que Otávio não se comportava de forma que ela tivesse confiança nele. O conselheiro propôs, então, que, naquele dia, Valéria teria mais tempo para falar e, na próxima sessão, Otávio. Ela poderia falar dos defeitos de Otávio, mas antes de cada defeito, teria que pontuar alguma coisa boa a respeito de seu esposo. Otávio ficou meio contrariado por se sentir o alvo naquela sessão, mas topou. Valéria não achou nada ruim.

Valéria começou falando que Otávio era um bom pai. O carinho e cuidado dele com Luana eram muito grandes e Luana adorava o pai. Dever cumprido, Valéria reclamou, bem emotiva, que Otávio não a fazia se sentir amada. O jeito simpático dele com todo mundo fazia com que ela se sentisse apenas mais uma e não a sua esposa. Ela não gostava do fato de que ele dava atenção para todas as pessoas, mas a ela não. “Por vezes parece até que os problemas da atendente do mercado são mais importantes para Otávio do que os meus”. Otávio ficou queimado com o comentário e quis falar, mas o conselheiro pediu a ele que desse espaço e liberdade para Valéria. Quando ela começou a reclamar do segundo aspecto, Renato a lembrou que ela tinha que fazer outro elogio.

Foi difícil lembrar de algo bom naquela hora, visto que as emoções estavam tão negativas, mas ela comentou que Otávio era muito esforçado com relação ao trabalho. Ela admirava o quanto ele era inteligente e esperto em administração. Disse que ele estudava muito para estar sempre atualizado e que os seus patrões ficavam sempre impressionados com o domínio que Otávio tinha de sua área de atuação. Valéria disse ainda que se sentiu muito orgulhosa quando ele ganhou uma promoção dois meses atrás. Ela disse que o admirava muito como profissional. Otávio estava genuinamente impressionado. “Você nunca me disse nada disso”, ele falou sorrindo com o canto da boca. Eles trocaram um olhar diferente, carinhoso.

“Agora a crítica”, disse o conselheiro. Valéria disse que gostaria que Otávio a convidasse mais para sair, organizasse encontros a dois, sem Luana. Desde que Luana nasceu eles tiveram pouquíssimas noites fora e ela sentia falta disso. Era como se o trabalho, os compromissos com Luana, os amigos e a igreja estivessem sufocando o tempo dos dois. Otávio se esforçou para não se sentir atacado e concordou que realmente precisavam dar mais tempo e atenção para seu relacionamento em vez de apenas ir cumprindo compromissos. O conselheiro percebeu que no decorrer dessa sessão, as cadeiras dos dois tinham se aproximado. Tendo terminado as queixas principais de Valéria, Renato pediu a ela que resumisse tudo em uma frase. Valéria disse: “Não me sinto cuidada por Otávio”.

O conselheiro perguntou a Otávio quais eram as coisas mais importantes em sua vida, ressaltando a necessidade de ser sincero consigo mesmo. Após pensar por alguns minutos, com a sala em silêncio, Otávio respondeu: “Desde criança tenho aprendido e tentado colocar Deus em primeiro lugar de importância em minha vida, minha família em segundo e meu trabalho e igreja em terceiro e, embora não de forma perfeita, acho que tenho conseguido fazer isso com certo sucesso”. Nesse momento, o conselheiro perguntou: “O que você tem feito que demonstre que essas prioridades realmente estão no lugar onde você as colocou?” Otávio, como quem não gostou da pergunta e na defensiva, começou a se explicar… Renato o interrompeu e disse: “eu quero que você me apresente fatos em sua vida que comprovem o que você me disse acerca de suas prioridades.” Otávio recomeçou: “Bom, eu tenho feito minhas devocionais…”. “Com qual frequência?”, perguntou o conselheiro, já que ele não havia feito todas as leituras bíblicas indicadas na sessão anterior. Otávio baixou a cabeça e assumiu que estava falhando nisso. Ele disse que houve uma época em que lia a Bíblia diariamente e livros devocionais com bastante frequência, mas há algum tempo já não lia diariamente a Bíblia, nem tinha um tempo a sós com Deus. Otávio ficou em silêncio por um momento e disse que precisava repensar suas prioridades, pois percebera não ter argumentos suficientes para sustentar as prioridades que achava ter.

Como a sessão estava chegando ao fim, Renato passou para parte de instruções das tarefas da semana, querendo deixar a interrogação na cabeça de Otávio. Tanto Otávio como Valéria, separadamente, deveriam colocar em um caderno quais eram as coisas urgentes e corriqueiras de suas vidas, coisas que não podiam esperar, desde as mais simples às mais complexas e quais eram as coisas importantes de suas vidas. Uma tabela simples com quatro colunas: Urgente – Atitudes Práticas – Importante – Atitudes Práticas. A tarefa deveria ser trazida na próxima sessão. Além disso, Otávio teria que organizar uma noite fora para os dois terem um tempo a sós. Renato falou para ambos lerem os textos abaixo, em uma versão com linguagem fácil (NTLH) e com o seguinte tema em mente: Deus como prioridade e as prioridades de Deus.

Dia 1: Deuteronômio 6.1-16
Dia 2: Êxodo 20.1-17
Dia 3: Ageu 1.1-15
Dia 4: Colossenses 1.13-23
Dia 5: Colossenses 3.1-4, 3.12-17
Dia 6: Colossenses 3.18-25
Dia 7: 1 Timóteo 3.1-13

Após se despedirem de Renato, Valéria e Otávio foram embora de mãos dadas.

 

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[1] João Paulo e Juliana são casados há 14 anos e são pais de três crianças lindas. Ju é psicóloga e psicopedagoga. João é pastor, professor do CPAJ e está cursando doutorado em Novo Testamento.

[2] A primeira sessão desse caso fictício pode ser lida em:
https://yvaga.wordpress.com/2016/03/28/um-caso-de-crise-conjugal-sessao-1/

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