Escritura

Pastor-pedreiro, veja bem como você está construindo! (1 Coríntios 3.9-17)

9 Porque de Deus somos cooperadores; lavoura de Deus, edifício de Deus sois vós. 10 Segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamento como prudente construtor; e outro edifica sobre ele. Porém cada um veja como edifica. 11 Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo. 12 Contudo, se o que alguém edifica sobre o fundamento é ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, 13 manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará. 14 Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão; 15 se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo. 16 Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? 17 Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado (1 Coríntios 3.9-17).

 

É muito fácil ser nomeado pastor, obreiro, missionário e até mesmo apóstolo nos nossos dias! Qualquer pessoa que tenha facilidade de se comunicar é um candidato em potencial. Em alguns grupos, se souber levantar ofertas, é rapidamente conduzido ao ministério. O trabalho do pastor já foi comumente referido como sagrado ministério e houve um tempo em que os pastores gozavam de respeitabilidade e eram chamados de doutores, mesmo por aqueles que não eram cristãos. A proliferação de ministérios independentes, os escândalos morais e, em especial, o abuso financeiro por parte de alguns obreiros autodenominados mudou esse cenário radicalmente. Parafraseando Rui Barbosa, poderia se dizer: “De tanto ver triunfar as nulidades no ministério pastoral; de tanto ver prosperar a desonra entre pseudoapóstolos, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o verdadeiro ministro do evangelho chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser chamado pastor.” A Bíblia, entretanto, também nisso deve ser tomada como o instrumento de Deus para animar os desanimados, fortalecer os fracos e contestar aqueles que estão no erro.

Nos versículos anteriores ao nosso texto, Paulo usou a metáfora dos lavradores para falar sobre aqueles que trabalham na obra de Deus. No verso 9 ele faz a transição para a próxima figura que ele usará a respeito dos obreiros: pedreiros que trabalham no edifício de Deus, que é a igreja. A Bíblia usa a figura de edifício para se referir à igreja, por exemplo, em Ef 2.19-22 e 1Pe 2.4-7. Aqui Paulo também usa essa figura, mas o seu foco está naqueles que Deus chama para serem os pedreiros, os construtores desse edifício. Primeiro, Paulo se defende dos seus críticos de Corinto, afirmando que ele, como um pedreiro perito e segundo a graça que lhe foi dada, lançou o fundamento e o fez com qualidade (3.10). Mas outro é o que constrói sobre o fundamento lançado. Paulo afirma ainda, que o fundamento que ele lançou não pode ser removido, porque o fundamento, a pedra angular, da igreja é Cristo Jesus (3.11).

A partir daí, Paulo exorta os pastores (e líderes da igreja em geral) que há três formas de desempenhar esse trabalho, e cada uma tem consequências, por isso, o verso 3.10 contém a ordem: “veja cada um como constrói” (NVI). Ou seja, pastores-pedreiros, sejam cuidadosos na maneira de desempenhar o vosso ministério.

Em primeiro lugar, Paulo afirma, no contexto da igreja de Corinto, que é possível que alguém construa sobre o alicerce (Jesus Cristo) com ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha (3.12). Ou seja, é possível que um pastor trabalhe na igreja e que seu trabalho, sua dedicação, sua moral e motivações possam ser comparados a um desses materiais. De um lado: ouro, prata e pedras preciosas, e de outro: madeira, feno e palha. O que vai revelar a qualidade de tal trabalho não são os resultados numéricos, a fama, o tamanho do templo, as fazendas ou jatinhos, mas o verdadeiro apóstolo de Cristo afirma o seguinte: manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará (3.13). “O Dia”, o dia da vinda de Cristo, do julgamento final e dos galardões passará cada ministério pastoral pelo fogo para averiguar o valor de tal ministério. É evidente que se o pastor construiu seu ministério (não seu patrimônio) com materiais nobres: outro, prata e pedras preciosas, o fogo não terá efeito nocivo. O texto afirma que “Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão”. Ou seja, vale a pena ser um pastor fiel, vale a pena ser um pastor à moda antiga, vale à pena se dedicar com amor pelo rebanho de Deus mesmo quando este e outros não o valorizam, pois, como diz Pedro, “logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis a imarcescível coroa da glória” (1Pe 5.4).

Mas se o ministério do sujeito é comparável à madeira, feno e palha, haverá consequências. Note que tanto o ministério do pastor aprovado, como o ministério daquele que não se dedicou tem qualidades diferentes e diferentes capacidades de enfrentar o fogo. Para aquele que construir sua carreira pastoral de forma relapsa, relaxada ou com motivações erradas o apóstolo diz: “se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo” (1Co 3.15). Imagine só, passar a vida inteira dedicando-se a um ministério que não tem nenhum valor eterno! Imagine a frustração de ver que seus anos foram gastos inutilmente e que nada do que você fez teve real valor diante do Pai! Lute, querido pastor, querido irmão, para que a obra que você faz no reino não seja de madeira, nem de feno, nem de palha, pois se o nosso ministério de queimar sofreremos dano, ainda que ainda tenhamos chance de ser salvos por meio do fogo!

Paulo apresenta ainda uma terceira forma de agir no ministério pastoral. “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.” Somos cooperadores de Deus na edificação de sua igreja, do santuário de Deus no qual habita o Espírito. Como vimos, é possível que um pastor/líder da igreja construa com ouro, prata e pedras preciosas. Também é possível que um pastor gaste sua vida em um ministério que tenha o valor de madeira, feno ou palha. Mas existe uma terceira possibilidade: que um pastor-pedreiro, em vez de construir, destrua o santuário de Deus. Imoralidade, roubo, extorsão, ensino de falsas doutrinas, idolatria, preguiça e outras coisas podem destruir a igreja de Deus. Se um falso pastor, em vez de construir sobre o fundamento, destruir o que foi construído, ele mesmo será destruído pelo próprio Deus. A razão apresentada por Paulo para a igreja de Corinto foi “pois o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado”. Deus ama a sua igreja. Cristo derramou seu sangue por sua igreja. Ser cooperador de Deus nesta edificação é um privilégio que traz consigo uma enorme responsabilidade: construa bem, pois se você destruir, será destruído.

Colegas pastores e líderes da igreja em geral. Sejamos sábios e criteriosos. Amemos a igreja de Cristo. Gastemo-nos por ela. Invistamos nela nossos melhores planos, ideias e vigor. Abandonemos a ganância, a sede por poder e a politicagem que envergonha e enfraquece o corpo. Construamos um ministério que aos olhos de Deus seja de ouro, prata e pedra preciosas a o final teremos o privilégio de ouvir: “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor” (Mateus 25.21).

 

Oração: Senhor Deus, dá aos pastores do nosso país um senso de responsabilidade de quem terá que prestar contas ao Supremo pastor. Dá-nos amor pelas tuas ovelhas e pelo santuário de Deus que é a igreja. Ajuda-nos a focar menos em coisas e mais em pessoas. Dá-nos o privilégio de construir sobre o alicerce que é Cristo, com material nobre de tal forma que almas sejam salvas e o teu povo edificado. Ó Pastor dos pastores, que o nosso ministério, ao seguir o modelo do Bom Pastor, glorifique o teu nome e redunde na expansão e fortalecimento do teu reino. Em nome de Jesus Cristo. Amém.

 

João Paulo Thomaz de Aquino

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