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Igreja Profunda: Um Resumo com Perguntas para Estudo

É evidente que o objetivo desses posts não é substituir a leitura do livro, mas sim facilitar discussões a partir da leitura do mesmo. Também não apresento o livro como a solução para todos os problemas, já que eu mesmo tenho algumas discordâncias em relação a algumas das propostas do autor. Ainda assim, Deep Church é um ótimo livro para gerar discussões produtivas sobre assuntos fundamentais à Igreja de Cristo.

Jim Belcher, The Deep Church: A Third Way Beyond Emerging and Traditional. Downers Grove: IVP Books, 2009.

POST 1: A IGREJA PROFUNDA

POST 2: A IGREJA PROFUNDA E SEU RELACIONAMENTO COM A VERDADE

POST 3: A IGREJA PROFUNDA E SEU RELACIONAMENTO COM A EVANGELIZAÇÃO

POST 4: A IGREJA PROFUNDA E SEU RELACIONAMENTO COM O EVANGELHO

POST 5: A IGREJA PROFUNDA E SEU RELACIONAMENTO COM O CULTO

POST 6: A IGREJA PROFUNDA E SEU RELACIONAMENTO COM O SERMÃO

POST 7: A IGREJA PROFUNDA E SEU RELACIONAMENTO COM O ECLESIOLOGIA

POST 8: A IGREJA PROFUNDA E SEU RELACIONAMENTO COM A CULTURA

POST 1: A IGREJA PROFUNDA

Eu li um livro nessas férias chamado The Deep Church: A Third Way Beyond Emerging and Traditional (Igreja Profunda: Um Terceiro Caminho Além do Emergente e Tradicional). O livro é muito interessante e, como o subtítulo diz, faz uma proposta de como ser uma igreja que evita tanto os erros do tradicionalismo, como os da chamada Igreja Emergente. 

“Igreja Emergente” é o nome que se dá a um movimento que surgiu nos EUA como uma reação contra as igrejas tradicionais, que não queria ao mesmo tempo ser como as Igrejas pragmáticas. Os líderes desse movimento afirmam que os conservadores deixaram de ser relevantes por terem deixado de dialogar com a cultura pós-moderna ao seu redor, assumindo de maneira idólatra e acrítica diversas marcas da época da modernidade tais como formalidade, certeza, moralismo, orgulho, liderança exageradamente hierárquica e centralizadora entre outras. 

O resultado desse movimento emergente no Brasil, por exemplo, são comunidades como a Igreja Batista da Água Branca do Ed René Kivitz. As igrejas emergentes têm a tendência de ter um desempenho positivo em aspectos como relevância, relacionamentos, interação com a cultura, comunicação e evangelização. Por outro lado, elas tendem a deixar a desejar no que concerne a solenidade, disciplina eclesiástica e a verdade doutrinária, por exemplo. Algumas dessas igrejas se autodenominam “missionais”, embora esse termo também seja usado por igrejas mais parecidas com aquelas que o autor chama de Igreja Profunda. 

O autor do livro, Jim Belcher, participou do início do movimento emergente nos EUA e plantou uma Igreja Presbiteriana Redeemer na Califórnia que ilustra na prática diversos aspectos da “Igreja Profunda” que ele propaga no livro. Belcher atualmente é presidente de uma universidade cristã na Califórnia e seus livros têm recebido ótima aceitação. 

Em Igreja Profunda, Belcher apresenta 7 áreas de divergência entre tradicionais e emergentes. Ele dedica um capítulo a cada uma dessas áreas mostrando as propostas e críticas de ambas as alas concernentes a cada um desses sete aspectos e então apresenta a sua proposta de um caminho melhor em direção a uma igreja profunda. As sete áreas são *verdade, evangelismo, evangelho, adoração, pregação, eclesiologia e cultura*. Um objetivo bem importante para Belcher é que a Igreja de Jesus Cristo alcance maior unidade e diálogo entre grupos divergentes. O termo “Igreja Profunda” foi extraído de um livro de C. S. Lewis.

Nos próximos posts vou relatar algo do que Belcher fala sobre cada um daqueles sete aspectos. Fiquem à vontade para fazerem comentários aqui baseados nesse brevíssimo resumo. 

PARA PENSAR

Tipos de “Igreja”

  • Igreja Católica
  • Igreja Tradicional (denominações históricas)
  • Igrejas fundamentalistas
  • Seitas
  • Igreja Pentecostal
  • Igreja Neo-Pentecostal 
  • Igreja Pragmática (Seeker Sensitive, Mega) 
  • Igreja Emergente
  • Igreja Missional

PERGUNTAS

  • Que tipo de Igreja queremos ser? 
  • O que podemos aprender de positivo com cada tipo de Igreja? 
  • O que devemos evitar de negativo nos diferentes tipos de Igreja? 
  • A missão primordial da Igreja é glorificar a Deus fazendo o quê exatamente? 

POST 2: A IGREJA PROFUNDA E SEU RELACIONAMENTO COM A VERDADE

A primeira área de divergência entre tradicionais e emergentes tratada no livro é o relacionamento da Igreja com a verdade. É um capítulo bastante técnico e difícil de compreender.

Simplificando bastante, o autor diz que a Igreja tradicional retém um relacionamento moderno com a verdade, influenciado pelo iluminismo (fundacionalismo). Na prática, isso significa, na visão dos emergentes, que os tradicionais acreditam em verdades fundamentais auto evidentes à parte da revelação de Deus e isso os leva a uma atitude de dependência extrema dos próprios pensamentos e argumentos, dependência exagerada da ciência, arrogância, autoconfiança exagerada e a uma atitude antipática e belicosa que mais afasta as pessoas do que as atrai.

Por outro lado, a acusação que os tradicionais fazem aos emergentes é que eles compram os erros do relativismo da pós modernidade ao ponto de questionarem a própria realidade e desprezarem a verdade revelada de Deus, estando dispostos a negociar as verdades para se adequarem aos gostos da sociedade pós-moderna.

O autor Belcher afirma que a Igreja profunda renuncia a uma atitude prepotente com relação à verdade e a sua própria interpretação da verdade mediada pela linguagem e humildemente depende da revelação de Deus interpretada em comunidade, ao mesmo tempo em que não abre mão da veracidade das verdades fundamentais que a Igreja tem afirmado ao longo dos séculos. E ao apresentar essas verdades, a Igreja Profunda o faz com humildade, simpatia e dependência de Deus.

PARA PENSAR

  • Você se alinha mais com os erros do tradicionalismo ou dos emergentes?
  • Como é a sua atitude com relação às verdades fundamentais da Palavra?
  • Como é a sua atitude com relação a verdades secundárias, aquelas nas quais existem divergências entre cristãos ao longo dos séculos?
  • A sua atitude e de sua Igreja é mais compatível com a de uma sociedade secreta da qual só se pode fazer parte depois de aceitar todas as regras ou a da igreja primitiva que contava com a simpatia das pessoas e propagava o evangelho convidando pessoas a Cristo?

POST 3: A IGREJA PROFUNDA E SEU RELACIONAMENTO COM A EVANGELIZAÇÃO

Deixe-me lembrar o método utilizado por este autor nesse livro. Ele escolhe um autor emergente e apresenta as críticas deste ao tradicionalismo. Depois ele apresenta as críticas um autor “evangelical” ao movimento emergente. Ao final, ele apresenta um terceiro caminho que ele chama de Igreja Profunda, utilizando uma expressão cunhada por C. S. Lewis.

No capítulo sobre evangelização, a crítica que se faz aos evangelicais (tradicionais) é que eles usam afirmações doutrinárias como porta de entrada na Igreja e, dessa forma, fecham as portas para pessoas que estão explorando o Cristianismo como uma possibilidade. Em vez disso, os emergentes dizem que pertencer à comunidade deve preceder a fé.

A questão, no entanto, que o autor levanta a respeito disso é se há um momento em que o interessado (seeker) realmente é levado ao ponto de tomar uma decisão. Ou seja, esse senso de pertencer é muito importante e a Igreja deve ser um lugar convidativo para as pessoas, mas tem que existir um limite em que pode e quem não pode pertencer ativamente à comunidade, pois se isso não acontecer a igreja perde algumas de suas marcas essenciais como santidade e disciplina.

Como resolver esse impasse e ao mesmo tempo ter uma igreja convidativa e com as marcas claras de um verdadeiro Cristianismo? A resposta apresentada no livro é: seguindo o exemplo de Jesus e tendo dois níveis diferentes de pertencimento à comunidade (multidão e discípulos). Um nível de pertencimento mais amplo no qual qualquer pessoa independente dos seus pecados e história será bem-vinda e poderá se sentir à vontade em vir e explorar o que temos a oferecer. E um outro círculo mais interno das pessoas que já fizeram um compromisso claro com o Senhor Jesus, estão sendo discípulas um12e tem que se submeter às regras da comunidade para continuar pertencendo. E isso, de tal forma que fique claro para as pessoas do círculo mais externo que elas devem fazer esse compromisso com Cristo e pertencer ao círculo mais interno.

PARA PENSAR

  • A sua Igreja receberia bem como visitante alguém muito diferente e evidentemente vivendo em pecado? 
  • Quão complicado é o processo de se tornar membro de sua Igreja quando comparado com as histórias de batismo do Novo Testamento? 
  • Quais são os elementos essenciais da fé que alguém deve aceitar para ser membro de sua Igreja? E para ser um líder? 
  • Até onde podemos caminhar com certas inovações e onde estamos abandonando marcas fundamentais? 
  • Um segundo culto fere a eclesiologia? 
  • Priorizar discipulado em lugar da classe de catecúmenos… Será que é uma boa? 
  • Será que seria absurdo batizar as pessoas que se convertessem logo após o sermão evangelístico? 
  • Uma igreja que não cresce está em pecado? Isso é verdade?

POST 4: A IGREJA PROFUNDA E SEU RELACIONAMENTO COM O EVANGELHO

A questão desse capítulo diz respeito à correta amplitude e foco do evangelho. De um lado, os evangélicos tradicionais, dizem os emergentes, reduziram o evangelho somente à salvação do indivíduo, à justificação pela fé, e assim produziram um evangelho individualista que não se envolve com as questões da sociedade (comunitárias). Em vez disso, os emergentes dizem que a igreja deve enfatizar a doutrina da criação e do reino de Deus e entender que a obra redentora de Deus vai além da salvação pessoal, envolvendo também a transformação da sociedade em diversas áreas. 

A contra-crítica feita pelos tradicionais é que os emergentes estão apenas apresentando uma nova versão da velha teologia da libertação e do evangelho social, alterando o teor da mensagem do verdadeiro evangelho. Assim, dizem os críticos do movimento emergente, há um reducionismo do evangelho para questões de justiça social e elementos centrais como justificação e expiação são deixados de lado. Belcher afirma que a proposta de viver o reino à parte da cruz pode criar um outro tipo de legalismo. 

Como solução do impasse, a proposta da Igreja Profunda é que a justificação, a expiação e a substituição penal sejam consideradas prioritárias ao evangelho e uma visão abrangente de Reino, justiça social e vida missional sejam suas consequências lógicas. Na igreja do autor, a maneira que eles expressam essa visão é por meio de quatro conceitos que devem ser mantidos nesta ordem específica: o “evangelho” gera uma “comunidade” que empreende a “missão” de redimir a sociedade e criar “shalom” em alguma medida. 

PARA PENSAR

  • Você tende a exagerar em um evangelho individualista que não se preocupa com questões sociais ou com um evangelho social que despreza a cruz como solução dos pecados? (ninguém é totalmente bem balanceado nesse ponto). 
  • Você tende ao legalismo ou ao libertinismo?
  • A tua salvação te motiva a atos de misericórdia seguindo o exemplo de Jesus Cristo? 
  • Qual é o conceito que você tem de reino de Deus? 
  • Você faz dicotomia entre vida religiosa e vida secular? 

POST 5: A IGREJA PROFUNDA E SEU RELACIONAMENTO COM O CULTO

Há uma citação do livro que resume muito bem o ponto desse capítulo: “Assim, enquanto todo mundo estava debatendo sobre se a igreja deveria ser tradicional ou contemporânea, comecei a perceber que eu não queria nenhuma das duas. Ambas têm defeitos. Eu sabia que deveria haver alguma alternativa. Eu estava ansioso para mover para além desse limbo. Eu desejava uma terceira via: adoração que incorporasse um encontro genuíno com Deus, com profundidade e substância, incluindo Santa Ceia de forma mais significativa e frequente, que fosse participatória, lesse mais as Escrituras em adoração, usasse os sentidos de maneira criativa, provesse mais tempo para contemplação e focasse mais na transcendência e alteridade de Deus. Essa visão eventualmente foi incorporada na adoração da Igreja Redeemer. É a nossa tentativa de um terceiro caminho – uma adoração profunda”.

Se você está na igreja há tempo suficiente, você deve ter testemunhado de alguma forma as “guerras de adoração”, como o autor de nosso livro as chama. A guerra entre hinos tradicionais e cânticos contemporâneos, a guerra do uso da bateria e guitarras ou somente do órgão ou piano, a guerra entre ter pessoas cantando à frente da Igreja ou somente o piano dirigindo as músicas, a guerra entre cantar somente os salmos ou cantar novos cânticos. Além dessas guerras que envolvem a música, as igrejas divergem também quanto ao vestuário apropriado para o culto (beca, terno e gravata ou esporte fino), a linguagem (mais formal ou mais dialogal e informal), o uso de artes (coreografia ou não; pode ter alguém pintando um quadro durante o sermão), o formato da Santa Ceia (quanto, quantas vezes e como celebrar), se o culto deve ser somente vertical ou também horizontal (pode ter avisos, cumprimento aos irmãos e discussão do sermão) e, finalmente, há divergências quanto ao espaço e ambiente de adoração (com “cara” de igreja ou com “cara” de show).

Segundo Belcher, ambas vertentes, tradicional e emergente (assim como os seeker sensitive), cometem o mesmo erro de lutar para se comunicar apenas com uma geração específica e, ao fazê-lo, ignoram aquilo que ele chama de a “Grande Tradição” da Igreja, ou seja, as práticas da igreja que datam dos períodos apostólico e patrístico. Belcher não propõe que tudo da tradição seja aplicado, mas que a tradição seja filtrada pela Palavra e adaptada para a presente época. Assim, citando mais uma parte da sua experiência eclesiástica pessoal, o autor diz: “Na Igreja Redeemer, nós tentamos manter a Bíblia, a tradição e o nosso contexto cultural em tensão, permitindo que eles informem cada parte de nosso culto”. Assim, a adoração profunda (culto profundo), segundo Belcher, pode ser marcada por sete características: mistura de elementos antigos e novos; reprodução do drama da redenção; mistura de alegria e reverência; consciência do sacerdócio universal dos crentes; apresentação de sermões que sejam profundos e ao mesmo tempo acessíveis; celebração semanal da Santa Ceia; ser amigável com os visitantes, apresentando um evangelismo doxológico.

PARA PENSAR

  • Qual é o teu gosto pessoal com relação ao culto: tradicional ou contemporâneo?
  • Você tem a tendência de confundir o teu gosto pessoal com a vontade de Deus para o culto?
  • O que no culto não depende do gosto, mas sim de uma boa teologia do culto?
  • Você sabe o que é o princípio regulador do culto? Como ele se aplica as ideias desse capítulo?
  • O que você acha da proposta do autor sobre aplicar partes da tradição da Igreja ao culto? Como é possível fazer isso na prática?
  • Quanto do culto é cultural e quanto é revelado?

POST 6: A IGREJA PROFUNDA E SEU RELACIONAMENTO COM O SERMÃO

As críticas que são feitas no livro com relação à pregação tradicional são que está normalmente é (1) carente de unidade (tem pontos não relacionados um com o outro; (2) cansativa (falta um elemento dramático); (3) é moralista e legalista (coloca exigências nem sempre mostrando a graça); (4) mais informativa do que transformadora, sendo, portanto, racionalista (considera que se houver compreensão, tudo estará resolvido); (5) transmite um tom orgulhoso. Com todas essas características, essas pregações, segundo o autor, têm o potencial de formar fariseus ou crentes sinceros desanimados. 

Em resposta a esse estilo de Pregação, o ramo mais radical da Igreja Emergente propõe uma pregação dialogal cujo ponto a que se vai chegar está aberto até que se chegue lá por meio de uma hermenêutica da comunidade. E nessa hermenêutica a Bíblia é somente uma das participantes da conversa e na interação entre a Bíblia, a comunidade e o Espírito, Deus falará coisas novas, que podem ser diferentes dependendo de quem estiver compondo a comunidade em determinado momento. Escritores tradicionais desprezam esse tipo de proposta como herética.

Como solução para o impasse, Belcher propõe uma pregação que seja focada no evangelho como o poder não somente para a salvação, mas também para cumprir os mandamentos de Deus. Além disso, ele propõe um método de pregação que apresente o problema e, então, a solução que o evangelho apresenta para tal problema é que o faça de maneira envolvente e apresentando sempre Jesus como o Centro de cada texto e a solução de cada problema. 

Fecho com uma citação do livro que resume bem o capítulo: “Enquanto a pregação tradicional (dedutiva, legalista, dirigida por imperativos) apela para uma evangelicalismo que foca nas marcas distintivas e a pregação progressiva (indutiva, de final em aberto, experimental) apena para emergentes focados no aspecto relacional, o enredo homilético atrai a igreja profunda focada naquilo que é central”.

PERGUNTAS PARA PENSAR

  • Quais são os modelos de Pregação que vô ê conhece (expositivo, temático, textual, narrativo, 4 páginas, biográfico)?
  • Você acha que a sua pregação ou a pregação da sua Igreja merece as críticas feitas contra a pregação tradicional?
  • Você acha que o modelo de Pregação apresentado no capítulo como emergente pode ser chamado de herético?
  • Você acha que elementos secundários são tratados como primários e o evangelho por vezes fica em segundo plano? 
  • Quanto do “sucesso” de uma pregação depende da habilidade de comunicação e/ou do dom espiritual do pregador? 
  • O que você acha que deve mudar em sua pregação (na pregação da sua Igreja)?

POST 7: A IGREJA PROFUNDA E SEU RELACIONAMENTO COM O ECLESIOLOGIA

A penúltima área de avaliação do livro é a eclesiologia da Igreja. Esse termo, que normalmente significa estudo ou doutrina da Igreja é usado no livro para abordar questões muito práticas sobre a vida da Igreja local. A discussão diz respeito especialmente a quanto a Igreja é uma instituição/organização e quanto é um organismo.

Segundo os emergentes, as Igrejas tradicionais exageram do lado da institucionalização, preocupadas apenas com a sobrevivência e não com um ministério missional. Por isso mesmo elas se tornam exageradamente burocráticas, tendo a estrutura como a principal preocupação em detrimento da missão, evangelismo e relacionamentos profundos. Sendo muito influenciada pelo modernismo, a Igreja Tradicional se tornou irrelevante para a cultura pós-moderna.

Do outro lado, as igrejas emergentes tendem a construir algo mais orgânico, por vezes sem estruturas de liderança (organograma), sem ofícios, sem um espaço próprio, sem regras, sem agenda, sem reuniões, onde todos têm oportunidade igual de falar e é totalmente baseada em relacionamentos. Qual é o problema desse tipo de ajuntamento? Segundo os críticos, ele tende a criar cristãos ainda mais individualistas, sucumbe as tendências do pós-modernismo, propicia ambiente adequado para proliferação de líderes mal-intencionados e dificulta a disciplina eclesiástica, uma das marcas fundamentais da Igreja. Sendo muito adaptada ao pós-modernismo, a Igreja Emergente também comete o erro da aculturação exagerada. 

Qual é a proposta da Igreja Profunda para evitar os erros do tradicionalismo e do movimento emergente? A fórmula proposta por Belcher para a Igreja Profunda é composta de “Bíblia + Tradição + Missão = Eclesiologia Profunda”. A Bíblia é a regra fundamental de eclesiologia, mas a aplicação dessa regra deve observar a grande tradução da Igreja a fim de não se tornar refém da cultura vigente e interpretação dominante. Além disso, a Igreja deve ser totalmente consciente e ativa na missão de levar o evangelho e fomentar que cada cristão viva como Cristo. Como Belcher diz: “A Igreja Profunda é bíblica, missional e abraça o melhor da tradição”.

PARA PENSAR

  • A sua Igreja é mais parecida com a Igreja tradicional, com a Igreja Emergente ou com a Igreja Profunda? 
  • E você, qual é seu estilo preferido?
  • Quais erros da Igreja Tradicional e/ou da Igreja Emergente você encontra na sua Igreja? 
  • Quais características boas da eclesiologia vistas nesse capítulo você vê em sua Igreja? 
  • O que você interpreta pelo termo “Missional“?
  • Você concorda com a proposta do autor de que os 2 mil anos de história da Igreja devem ser levados em consideração quando pensamos sobre como a nossa Igreja local deve ser? Por quê? Como isso pode funcionar na prático?

POST 8: A IGREJA PROFUNDA E SEU RELACIONAMENTO COM A CULTURA

Nessa última área de análise, Belcher apresenta as visões diferentes que a Igreja tradicional e a Igreja Emergente têm a respeito de cultura. Para os emergentes, o erro dos tradicionais (ou fundamentalistas) é que eles se posicionam contra o mundo e sua cultura e, assim, adquirem uma atitude sectária, sem criatividade, politiqueira, muito crítica, hipócrita, isolacionista, fechada entre 4 paredes, arrogante e não hospitaleira para pessoas da época atual. Dessa forma, a Igreja se torna incapaz de ser sal e luz. 

Os cristãos tradicionais criticam a Igreja emergente como sendo tão envolvida com o mundo e sua cultura ao ponto de ter se tornado mundana. Ao aceitar a arte da cultura vigente, dizem, a Igreja Emergente passou a abrigar em si os erros, vícios e imoralidades presentes nessas artes. Assim, a Igreja Emergente perdeu a sua capacidade de ser sal e luz. 

A proposta da Igreja Profunda para esse impasse é uma doutrina da criação que englobe não somente as artes, mas também os campos político, econômico e social da existência. A Igreja Profunda também se preocupa não somente em criticar a arte da época, mas em produzir arte de boa qualidade baseada em uma cosmovisão correta. Ela propõe que os cristãos participem ativamente da sociedade, mas mantendo a consciência de que são peregrinos. Uma concepção robusta da graça comum e uma linguagem que permita a comunicação com os não cristãos também são necessárias para se fazer ouvir no mundo. Assim, cada cristão da Igreja Profunda é chamado para aplicar uma cosmovisão cristã em sua área específica de atuação no mundo, de modo a ser sal e luz onde quer que esteja. Ou seja, cada cristão como um agente secreto de Cristo deve se engajar na tarefa de demonstrar a perspectiva cristã em sua área de trabalho e influência, enquanto recebe na igreja conteúdo, ânimo e capacidade para fazer isso.

PARA PENSAR

  • Quão envolvida a sua Igreja é com artes, música, literatura? 
  • Quão envolvida a sua Igreja é com questões políticas, econômicas e sociais? 
  • Você diria que a tua forma de pensar sobre essas áreas é influenciada pela Bíblia? 
  • Que partes de tua cosmovisão são exageradamente dicotômicas (Deus contra a criação)?
  • Que partes da tua cosmovisão são exageradamente sincréticas (Deus a favor do Mundo)?
  • Você tende a exagerar em ser legalista ou mundano?
  • Como você pode ser um agente secreto de Cristo em seu trabalho, hobby, lugar na sociedade, etc.?

Este livro pode ser muito útil para ministros, líderes e cristãos em geral fazerem uma reavaliação de suas próprias concepções a respeito da noiva de Cristo. Pode ser usado com proveito para discussão em pequenos grupos, especialmente em momentos de definição e redefinição da identidade da Igreja local, bem como em momentos de planejamento estratégico.

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