Bíblia Introdução aos livros bíblicos

Introdução ao livro bíblico de Números

O quarto livro do Pentateuco, Números, em Hebraico tem o sugestivo nome de “No deserto” (במדבר). Deserto, aliás, que é um tema fundamental de toda a Bíblia. O livro mostra como Israel andou com Deus pelo deserto e, assim, nos ensina também a como peregrinarmos por esta vida na presença de Deus. Números narra de maneira bastante resumida cerca de 38 anos da peregrinação do povo de Deus pelo deserto, desde o deserto do Sinai até o deserto de Moabe. Na verdade, o livro pode ser bem estruturado a partir das paradas e peregrinações nos desertos:

Esboço do Livro

1.1—10.10: Parada no deserto do Sinai (1445 a.C.)

10.11—12.15: Peregrinação do Sinai para o deserto de Cades(-Barneia) em Parã (1445 a.C.)

13.1—20.21: Parada no Deserto de Cades(-Barneia) em Parã (1445 a.C. – 1407 a.C.)

20.22—21.35: Peregrinação de Cades Barnéia para o Deserto de Moabe (1407 a.C.)

22.1—36.13: Parada no Deserto de Moabe (1407 a.C.)

Propósito do livro

LaSor, Hubbard e Bush são muito felizes na maneira de expressar o propósito do livro: “Um propósito óbvio do livro é registrar o período desde o encontro com Deus no Sinai até a preparação em Moabe para a entrada na terra prometida. Entretanto, há muito mais que isso. A jornada entre o Sinai e Cades-Barnéia, passando pelo golfo de Acaba, levaria normalmente apenas onze dias (Dt 1.2).2 A rota direta consumiria poucos dias a menos e, passando por Edom e Moabe, dificilmente mais que duas semanas.3 A narrativa deixa claro que o período de trinta e oito anos foi uma punição pela falta de fé: ninguém da geração incrédula teve permissão para entrar na terra (Nm 14.20-45; cf. Dt 1.35ss.). Números, portanto, não é só um trecho de história antiga, mas outra lista dos atos de Javé. Trata-se de uma história complexa de infidelidade, rebelião, apostasia e frustração, em contraposição com a fidelidade, presença, provisão e paciência de Deus”. LaSor, Hubbard e Bush, Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999, p. 107.

Temas Teológicos

Alguns dos temas mais importantes do livro são:

(1) a Palavra de Deus: veja quanto capítulos e seções do livro começam com o Senhor disse e outras expressões semelhantes.

(2) Os Pecados do povo: Incredulidade, insubmissão a Deus e aos líderes, reclamação e murmuração, saudades do Egito, ingratidão. Eis os pecados relatados no livro:

11.1-3: O povo reclama; saiu fogo e consumiu as extremidades do arraial.
11.4-35: o populacho influencia o povo a ter saudades da comida do Egito e reclamar do Maná. Deus envia codornizes e uma praga.
12.1-16: Miriã e Arão reclamam por causa da mulher cuxita de Moisés e questionam a autoridade de Moisés. Deus deixa Miriã leprosa por uma semana.
13.1-33: Os espias vão analisar a terra e 10 voltam apavorando o povo e dizendo que não conseguiriam possuir a terra. Em Nm 14.36-37, os 10 espias morreram de praga diante do Senhor.
14.1-38: Motivados pelo relato dos 10 espias incrédulos, os israelitas lamentaram, murmuraram contra Moisés e Arão, disseram que queriam ter morrido no Egito ou no deserto, decidiram escolher um novo líder e quiseram apedrejar Josué e Calebe! Deus decide matar todo o povo. Moisés intercede. Deus, então, decide que toda aquela geração vai morrer no deserto, como eles desejaram.
14.39-45: Alguns israelitas decidem ir conquistar a terra que agora Deus avisou que não lhes daria. Eles foram derrotados em guerra.
15.32-36: Homem pega lenha no sábado e Deus manda que ele seja apedrejado.
16.1-35: Corá, Datã e Abirão e mais 250 homens se levantam contra a autoridade de Moisés e Abraão. Deus decide destruir todo o povo. Moisés intercede. Moisés os chama para conversar e eles decidem não ir. A terra engoliu Corá, Datã, Abirão e suas famílias e fogo consumiu os 250 homens que ofereciam incenso.
16.41-50: O povo acusa Moisés e Arão de terem matado o povo do Senhor. Deus decide matar o povo. Moisés intercede. Uma praga da parte do Senhor dizimou 14.700 pessoas.
20.2-13: O povo reclama por falta de água e se ajunta contra Moisés e Arão. Deus manda Moisés santificá-lo, falando à Rocha. Irado, Moisés fere a rocha e Deus o pune dizendo que Moisés não entrará na Terra Prometida.
21.4-9: O povo fica impaciente e começa a falar mal de Deus e de Moisés. Deus mandou cobras venenosas para picar o povo. Depois da intercessão de Moisés, Deus mandou fazer a serpente de bronze e aqueles que olhavam para ela eram curados.
25.1-18: Os homens se deixam seduzir por mulheres moabitas, entregam-se à imoralidade, comida sacrificada e adoram Baal-Peor. Deus envia uma praga que dizima 24 mil homens. Fineias mata um judeu e uma moabita e é elogiado pelo Senhor. Em 31.1-12, os israelitas matam os midianitas e Balaão.
31.1-54: Os israelitas não destróem totalmente os midianitas. Deus estabelece regras com relação aos despojos de guerra.

(3) O Dever de viver para Deus: os levitas (3—4, 8), os nazireus (6) e todo o povo deveriam viver em santificação e obediência ao Senhor, entendo que Deus tem o direito de determinar as regras e de receber a obediência e a própria vida do seu povo. Deus também é aquele que determina as datas mais importantes do calendário do seu povo (9, 28—29).

(4) Deus anda no meio do seu povo: O Tabernáculo é uma marca da presença de Deus com o seu povo, assim como a bênção sacerdotal que coloca o nome de Deus sobre o povo e as punições aos pecados demonstram que Yahweh se faz presente entre o povo da aliança e isso traz bênçãos e consequências sobre a rebeldia.

(5) Deve-se respeitar aqueles que o próprio Deus escolhe para dirigir o seu povo ao mesmo tempo em que estes, não devem se achar essenciais para a obra de Deus: Um dos pecados mais comuns da peregrinação e que Deus tratou com grande rigor foi a rebeldia contra a autoridade de Moisés. Por outro lado, tanto Arão quanto Moisés são punidos quando desprezam a Deus ao tomarem atitudes que imponham sua própria autoridade em detrimento da de Deus.

(6) Deus manifesta a sua graça apesar dos pecados seu povo: Apesar dos vários e graves pecados do povo de Deus e de várias punições drásticas que esses pecados trouxeram, Deus continuou caminhando no meio do povo, recusou-se amaldiçoá-lo (no caso de Balaão) e continuou ensinando e dirigindo o seu povo por meio de líderes escolhidos e capacitados pelo próprio Deus. Podemos dizer, no entanto, que essa graça é uma espécie de “graça dolorosa” que não deixa passar totalmente impunes os pecados cometidos pelo povo!

Timothy Ashley faz o seguinte comentário sobre os temas teológicos de Números: “Os temas de obediência, desobediência, santidade e a presença de Deus são fundamentais para compreender o livro de Números. Com vistas a uma discussão temática, ajuda dividir o livro em três partes constituintes> orientação (1.1—10.10), desorientação (10.11—22.1) e reorientação (22.1—36.13) [cf. Walter Brueggemann]. As seções de viagem (10.11—12.16; 20.1–22.1) são transicionais. (Timothy Ashley, The Biiks of Numbers. Grand Rapids: Eerdmans, 1993, p. 8).

Números no Novo Testamento

  • O voto de consagração (Nm 6; 30): O voto de Paulo em Atos 21.17-26
  • A Bênção Sacerdotal (Nm 6.22-27): relação com as bênçãos apostólicas ao final das cartas do NT.
  • O Tabernáculo (Nm 7): Hebreus 8—9
  • A Páscoa e outras festas (Nm 9; 28): Crucificação de Cristo nos evangelhos e 1 Coríntios 6
  • A reprovação do povo (Nm 13—14): 1 Coríntios 10
  • Corá, Datã e Abirão (Nm 16): Judas 1
  • A Rocha que verte água (Nm 20): 1 Coríntios 10
  • Balaão (Nm 22-25; 31): 2 Pedro 2; Judas 1; Apocalipse 2
  • Serpente de Bronze (Nm 21.4-9): João 3

Cristo em Números

Apesar de todas as instruções detalhadas de Deus para o seu povo, apesar de Deus levantar líderes competentes e cheios do poder e sabedoria divinos para guiar o seu povo e apesar de Deus demonstrar ira e misericórdia, o povo de Deus não consegue andar na presença dele sem que o próprio Deus manifeste graça. Cristo é a razão de ser dos sacrifícios e o sacrifício perfeito. Ele é o perfeito levita dedicado completamente a Deus para a liberdade de todos os cristãos. Ele é o perfeito Moisés (profeta/rei) e o perfeito Arão (sacerdote). Cristo sofreu a rebeldia do seu povo de maneira mais contumaz do que Moisés e intercedeu por este povo com muito mais sucesso. Cristo é o próprio tabernáculo e aquele que entrou no Tabernáculo celestial. Cristo é a própria Palavra de Deus, a solução para os pecados e rebeldias do povo, aquele que possibilita vivermos em santidade, o Emanuel que garante a presença de Deus conosco, o líder por excelência e aquele que concede líderes à sua igreja e a própria encarnação da graça de Deus. Todos os problemas relatados em Números encontram em Cristo a sua solução e todas as promessas do livro têm nele o seu sim. Aleluia!

Estude mais

http://www.prazerdapalavra.com.br/biblia/panoramas-biblicos/2590-para-ler-o-livro-de-numeros

http://www.monergismo.com/textos/comentarios/proposito-numeros_rushdoony.pdf

Levítico & Números

https://vidanova.com.br/327-numeros-introducao-comentario-.html

https://www.youtube.com/watch?v=tcxo5vRy0ZY

Mapa

Map-Route-Exodus-Israelites-Egypt[1]

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