Bíblia Introdução aos livros bíblicos

Introdução a Levítico

Levítico é um dos livros mais difíceis da Bíblia. Os detalhes sobre sacrifícios, pecados e impurezas tornam o livro complicado e “pesado” para ler. Um dos motivos para isso é porque Levítico é muito humilhante, pois apresenta um retrato feio (e verdadeiro) da raça humana depois da queda. Nós somos sujos e inadequados, mas Deus proveu diversos sacrifícios e cerimônias para possibilitar que nos aproximemos dele em arrependimento, adoração e comunhão. Todos esses sacrifícios e cerimônias apontam para e se cumprem em Jesus Cristo.[1]

Veja abaixo alguns comentários sobre o livro, feito por estudiosos do Antigo Testamento:

 

O livro de Levítico contém as leis que deveriam governar o povo de Deus, em sua forma organizada, quanto à sua vida religiosa e civil. No monte Sinai os israelitas haviam sido formalmente organizados em nação teocrática. A lei básica havia sido entregue, o pacto havia sido ratificado, e o Tabernáculo havia sido erigido. Dessa forma, o Senhor viera habitar no meu do Seu povo. Antes de poder o povo prosseguir em sua jornada até à Terra Prometida, entretanto, tornava-se necessário que conhecessem as leis que os orientariam em sua adoração ao Senhor no Tabernáculo. Essas leis acham-se contidas no livro de Levítico. Portanto, é evidente que, embora o livro de Levítico seja uma unidade auto-contida, acha-se em seu lugar próprio e pressupõe as narrativas do livro de Êxodo para que possa ser corretamente entendido. Edward J. Young. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 1964, p. 82.

 

“Embora, por esse não ser um assunto familiar, de imediato seja difícil de enxergar isso, mesmo uma simples reflexão sobre Levítico demonstra rapidamente que esse é um dos livros de maior inclinação teológica nas Escrituras. Afinal, ele trata um tanto quanto detalhadamente como o Deus santo define o pecado, perdoa o pecado e ajuda as pessoas a evitar o pecado. Analisa como a vontade de Deus se revela e como pode-se assegura a presença de Deus. Levítico também descreve como o povo de Deus pode ser declarado santo ou como pode ser o que Deus imaginou para eles desde o começo (v. Êx 19.56)”. Paul House, Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Acadêmica, 1998, p. 159.

 

“O livro, portanto, foi compilado para a instrução da congregação em questões referentes ao culto, i.e., os procedimentos corretos para fazer sacrifícios, para observar os tempos solenes no calendário e para viver como um povo santo. Esse conhecimento permitia ao povo realizar seu culto de modo aceitável a Deus e também monitorar os sacerdotes, verificando se cumpriam devidamente a lei. Além disso, impedia que os sacerdotes ganhassem controle indevido sobre o povo, mantendo como conhecimento secreto o funcionamento básico do santuário”. William LaSor; David Hubbard; Frederic Bush, Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999, p 89.

 

“Em todos o livro de Levítico o Deus único continua a exigir fidelidade para si. Israel deve a todo custo evitar ídolos e deve rejeitar as práticas de adoração dos egípcios e cananeus. Só o Deus único pode salvar. Só o Deus único faz uma aliança com os seres humanos. Só o Deus único revela padrões concretos, compreensíveis, santos ao povo. Só o Deus único tira Israel de atividades prejudiciais e vergonhosas para torná-los um povo santo. Só o Deus único perdoa sem restrições e julga retamente. Só o Deus único está pronto a dar a Israel uma terra própria”. Paul House, Teologia do Antigo Testamento, São Paulo: Vida Acadêmica, 1998, p. 192.

 

Neste livro há uma profunda unidade de planejamento e pensamento, que se expressa de duas maneiras. Primeiramente, o livro de Levítico trata da remoção daquela contaminação que separa o homem de Deus [1—16] e, em segundo lugar, trata da restauração da comunhão que fora interrompida entre o homem e Deus [17—26]. Edward J. Young. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Edições Vida Nova, 1964, p. 82.

 

O livro de Levítico apresenta a importância central da santidade e pureza para se ter um relacionamento com Deus e como o próprio Deus proveu meios para possibilitar isso no ser humano. Todos os aspectos da vida da nação de Israel dependiam de que seu relacionamento com Deus estivesse funcionando bem. Eis algumas características e ênfases fundamentais do livro central do Pentateuco:

 

Motivos para sermos santos no livro de Levítico

  • Pois Deus é santo: Lv 11.44-45; 19.2; 20.26
  • Pois Deus é o nosso Deus: 11.44; 19.2; 20.7
  • Pois Deus nos tirou do Egito (do pecado): 11.45
  • Pois Deus é Yahweh Mekadishkem (O Senhor que vos santifica): 20.8; 21.8, 15, 23; 22.9, 16, 32.
  • Pois Deus nos separou dos outros povos para sermos dele: 20.26

 

Como Deus se apresenta em Levítico (Eu sou…)

(o segundo livro em que Deus mais faz esse tipo de apresentação, perdendo apenas para Ezequiel)

  • Eusou o Senhor, o Deus de vocês… eu sou santo (Lv 11.44; 18.2, 4-6; 19.2, 4, 10, 12, 14, 16, 18, 25, 28, 30-32, 34, 37; 20.7; 21.12; 22.2-3, 8, 30, 31, 33; 23.22, 43; 24.22; 25.17, 55; 26.1, 2)
  • Eusou o Senhor que os tirou da terra do Egito para ser o seu Deus (Lv 11.45; 19.36; 25.38; 26.13)
  • Eusou o Senhor que os santifica (8; 21.8, 15, 23; 22.9, 16, 32)
  • Eu, oSenhor, sou santo, e os separei dentre os povos para serem meus (20.26)

 

Temas Centrais do Livro

 

Tipos de Sacrifícios e Ofertas

(Todos esses sacrifícios se cumprem em Jesus. Nele temos não somente perdão para os nossos pecados, mas também comunhão e expressões de adoração e gratidão)

 

Esboço[3]

  • 1-7            Instruções sobre as ofertas
  • 8-9            Ordenação de Arão e dos seus filhos
  • 10              Morte de Nadabe e Abiú
  • 11-15        Leis sobre pureza e impureza
  • 16              O Dia da Expiação
  • 17-20        Sangue, sexo, sanções e santidade
  • 21-22        Regulamentações para Arão e os seus filhos
  • 23-25        O calendário israelita
  • 26              Bênçãos e maldições da aliança
  • 27              Instruções sobre a resgate daquilo que foi consagrado

 

Como Levítico apresenta a Cristo e a Nova Aliança?

  • Assim como todas as ofertas eram oferecidas com sal (Lv 2.13; Ez 43.22-24), nós somos chamados no Novo Testamento a sermos uma oferta salgada ao Senhor (Mc 9.49-50)
  • Há diversas leis em Levítico regulamentando o direito dos sacerdotes de comer dos sacrifícios apresentados no altar: Lv 6.16-30; 7.6-27; 8.31; 10.12-20; 17; 19.5-26; 21.18-24; 22.4-16; 23.4-14; 24.5-9. Essas leis mostram que esse comer era parte do ritual de purificação do povo e era também importante parte da comunhão que os sacerdotes tinham com Deus. Era expressamente proibido comer sangue. Na nova aliança, todo o povo de Deus é elevado à condição de sacerdote e todos podem comer na Santa Ceia tanto a carne quanto o sangue do Cordeiro Sacrificial.
  • É evidente que Jesus Cristo é o sacrifício perfeito para o qual todos os sacrifícios apresentados em Levítico apontavam. Jesus é o nosso holocausto, nossa oferta pelo pecado, nosso sacrifício de comunhão, nossa Páscoa e nosso dia da Expiação. E nós somos sacrifícios vivos e ofertas de libação oferecidos para a glória de Deus.

 

Estude mais

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[1] “Levítico abre uma janela para o culto do antigo Israel. Nele aprendemos sobre a santidade de Deus. O livro traz à luz a relação entre a santidade e a ética e, mais que isso, fornece o contexto para que se compreenda o significado da morte sacrifical de Cristo”. William LaSor; David Hubbard; Frederic Bush, Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1999, p 99. “O significado messiânico desses sacrifícios deve ser entendido especialmente do ponto de vista mais amplo do conceito messiânico. Com tudo o que os sacrifícios implicam eles eram realizados em lugar da obra sacerdotal do Messias e apontavam para ela – em verdade, para o próprio coração de seu ministério sacerdotal. O Messias, como sacerdote, traria o sacrifício de vida e sangue em favor de todos os homens e mulheres que, por causa de seu pecado e culpa, estavam alienados de Deus, mortos em sua relação com Deus, oprimidos pelos efeitos esmagadores do pecado. E porque esse Messias, prefigurado nos sacrifícios oferecidos no tempo do Velho Testamento, veio trazer o sacrifício pleno e perfeito de vida e sangue, os adoradores dos tempos antigos, bem como os da era contemporânea, têm uma total expiação feita em seu favor; têm perdão; têm vida. Eles são restaurados a sua plena posição real na casa do soberano Senhor”. Gerard Van Groningen. Revelação no Velho Testamento. Campinas: Luz para o Caminho, 1995, p. 213-214.

[2] “O verbo kapar (cobrir, untar) na forma intensiva do piel acentua o apaziguamento (Gn 32.21), a reparação (2Sm 21.3), o cobrimento (Dt 21.8) e frequentemente expiação. O sacerdote, como mediador diante de Deus, devia declarar o adorador ‘coberto’. Ele não mais devia considerar-se exposto à ira de Yahweh sobre o pecado e a culpa. Yahweh aceitara o substituto; Ele estava aplacado; sua ira contra o pecado fora apaziguada. O adorador pecaminoso era agora um adorador purificado. A paz fora restaurada entre Yahweh e o adorador, a reconciliação era completa. Em muitas passagens, principalmente em Levítico, a frase fazer expiação é seguida pelo verbo sa’lah, que no nifal significa ‘perdoar’ (Lv 4.20, 26). Essa expressão enfatiza a ideia de uma remoção completa do pecado – a anulação ou cancelamento de qualquer débito do pecado. O adorador podia estar certo de que sua vida seria poupada, ele continuaria a viver”. Gerard Van Groningen. Revelação no Velho Testamento. Campinas: Luz para o Caminho, 1995, p. 213

[3] Existem estudiosos que dividem o Pentateuco em 7 Conjuntos de Leis; são estes: Decálogo (Êx 20.1-17; Dt 5.6-21) Código da Aliança (Êx 20.18—23.33); Decálogo Ritual (Êx 34.11-26); Código Deuteronômico (Dt 12—26); Código de Santidade (Lv 17—26); Código Sacerdotal (Lv 1—16, 27; Nm 1—10); Código de Maldições (Dt 27.14-26). R. K. Harrison. Introduction to the Old Testament. Grand Rapids: Eerdmans, 1969, p. 589-590; divide o livro da seguinte forma:

  1. A Lei do Sacrifício (1-7)
    1. O holocausto (1.1-17)
    2. A refeição ou oferta de cereal (2.1-16)
    3. A oferta de paz (3.1-17)
    4. A oferta pelo pecado (4.1-5.13)
    5. O oferta pela culpa (5.14-19)
    6. Condições que implicam em expiação (6.1-7)
    7. Ofertas queimadas (6.8-13)
    8. Ofertas de cereal (6.14-23)
    9. Ofertas pelo pecado (6.24-30)
    10. Regulamento a respeito da oferta pela culpa (7.1-10)
    11. Regulamentos da oferta de paz (7.11-21)
    12. Proibição de gordura e sangue (7.22-27)
    13. Outros regulamentos a respeito da oferta de paz (7.28-38)
  2. A Consagração de Sacerdotes (cap. 8-10)
    1. Preparação para a unção (8.1-5)
    2. A cerimônia de unção (8.6-13)
    3. O sacrifício de consagração (8.14-36)
    4. Instruções a respeito da oferta pelo pecado (9.1-7)
    5. Entrada dos aaronitas no ofício (9.8-24)
    6. O destino de Nadabe e Abiú (10.1-7)
    7. Proibição a respeito de embriaguez por parte dos sacerdotes (10.8-11)
    8. Regras a respeito de comer comida sacrificada a ídolos (10.12-20)
  3. O Puro e o Impuro (11-15)
    1. Animais puros e impuros (11.1-47)
    2. Purificação depois de dar à luz (12.1-8)
    3. Leis a respeito da lepra (13.1-14.57)
    4. Purificação depois de secreções (15.1-33)
  4. O Dia da Expiação (cap. 16)
  5. Leis Rituais (cap. 17-15)
    1. O sangue do sacrifício (17.1-16)
    2. Leis e punições religiosas e éticas (18.1-20.27)
    3. Cânones de santidade sacerdotal (21.1-22.33)
    4. Consagração de estações (23.1-24.23)
    5. Anos sabático e do jubileu (25.1-55)
  6. Promessas, Advertências e Apêndice (cap.26-27)

 

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