Crise! Uma Introdução a Eclesiastes
Muitas das pessoas que conheço estão em crise. No casamento, com os filhos, na empresa, existencial, de saúde, da meia idade, espiritual, da adolescência, política, financeira… crises, crises e mais crises. Os nomes de doenças e transtornos da mente proliferam e novas etiquetas para as mais diversas “crises” são inventadas por especialistas.
Sem minimizar outras áreas da vida e a complexidade da experiência individual, certamente se pode afirmar que a principal crise do ser humano é espiritual. Vivemos em um mundo palpável e passamos a depender e crer demais nas coisas palpáveis (Romanos 1.18 em diante) e assim, incorremos no erro que o pregador descreve como “viver debaixo do sol”.
Viver “debaixo do sol” é viver na prática como se Deus não existisse ou não fosse tão importante assim. É reduzir a vida espiritual a apenas um departamento da vida. É dedicar tanta energia às coisas (ou pessoas) materiais que não sobra tempo para relacionar com aquele que dá sentido à vida, cuja especialidade é resolver crises. Viver “debaixo do sol” é gastar o seu tempo do seu próprio jeito, com as escolhas do teu coração, livremente fazendo, indo e comprando qualquer coisa que agrade a si mesmo, sem se lembrar de Deus no processo.
O escritor de Eclesiastes teve todas as experiências que um ser humano pode ter. Poder, dinheiro, conhecimento, sexo, propriedades, prazer, escravos, fazenda, arte. Ele chega a dizer: “Tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o coração de alegria alguma” (Eclesiastes 2.10)
Qual foi o resultado? Vazio.
Ao viver como se Deus não existisse, o escritor encontrou alegrias momentâneas, prazeres passageiros e um vazio constante: “Que grande inutilidade!”, diz o mestre. “Que grande inutilidade! Nada faz sentido!” (Eclesiastes 1.2) “ Tenho visto tudo o que é feito debaixo do sol; tudo é inútil, é correr atrás do vento!” (Ec 1.14).
Quanto mais de nós gastarmos, procurando sentido nas coisas enquanto, na prática, excluímos Deus da equação de nossas vidas, mais em crise estaremos. Não é de se admirar que estejamos em crise se nossas devocionais pararam há muito tempo, nosso culto familiar nasceu morto e confortavelmente convivemos com pecadinhos inofensivos. Não é de se admirar que estejamos em crise se Deus está presente em nossa fala e teologia, mas não em nosso coração. Se preferimos colocar a máscara do “tudo bem” em vez de confiarmos em um cristão maduro para nos ajudar. Nós convidamos a crise para morar conosco quando nos afastamos de Deus, ainda que aos poucos.
Assim, sozinhos enfrentamos a crise que cresce e convida outras e nos afastamos ainda mais da Razão da nossa existência. Cínicos, passamos a questionar a existência daquele que nós mesmos excluímos de nossas vidas enquanto buscávamos avidamente nossos sonhos pessoais: “santificado seja o meu nome, venha o meu reino, seja feita a minha vontade”. Enquanto isso, a alegria da vida nos escapou das mãos e, sozinhos, não vemos sentido em nada. Tudo é vaidade, tudo é inútil, tudo é dor e desgosto, ainda que haja alguns dias um pouco melhores.
Eclesiastes descreve com precisão e verdade o que acontece com todos nós, ainda que de maneiras diferentes e em intensidades distintas. Esquecendo que Deus existe, excluindo a realidade que existe acima do Sol, o resultado é angst.
É só no final do livro que o pregador abre totalmente as janelas do céu. Ele recomenda que se lembre do Criador (Ec 12.1), se tema a Deus e guarde os seus mandamentos (Ec 12.13). Ele relembra que existem leis criadas por Deus com base nas quais os homens serão julgados (Ec 11.9; 12.14). Assim, dentro dessa realidade de um Deus que habita nos céus, é o nosso Criador e nos julgará, o pregador, ordena: aproveite a vida dada por esse Deus, dentro dos parâmetros estabelecidos por ele mesmo.
É de acordo com essa realidade final do livro que o livro todo tem que ser lido. Toda a tristeza, inutilidade e vazio descritos no livro de forma real e sincera, mostram um mundo amaldiçoado por Deus e um homem que não se satisfará totalmente com coisas, porquanto tem a eternidade no coração (Ec 3.9). A boa notícia é que há oportunidades para se alegrar nas coisas, desde que elas não tomem o lugar daquele que dá a alegria.
Lembre-se do seu Criador, tema a Deus e aproveite a vida debaixo do sol. Para aqueles que se lembrarem do Criador, ainda haverá algumas crises e vazios em meio a um padrão de alegria. Tais momentos ruins servirão para nos lembrar esse mundo amaldiçoado não é o nosso lar final, mas após o julgamento, em uma terra restaurada, desfrutaremos uma eternidade de delícias ao lado do Pai. Maranata! Vem Senhor Jesus!
Essas são as “janelas para cima do sol” que o pregador apresenta ao longo do livro. Medite nestes textos:
Eclesiastes 2.24-26 Para o homem não existe nada melhor do que comer, beber e encontrar prazer em seu trabalho. E vi que isso também vem da mão de Deus. 25 E quem aproveitou melhor as comidas e os prazeres do que eu? 26 Ao homem que o agrada, Deus dá sabedoria, conhecimento e felicidade. Quanto ao pecador, Deus o encarrega de ajuntar e armazenar riquezas para entregá-las a quem o agrada. Isso também é inútil, é correr atrás do vento.
Eclesiastes 3.9-14 O que ganha o trabalhador com todo o seu esforço? 10 Tenho visto o fardo que Deus impôs aos homens. 11 Ele fez tudo apropriado ao seu tempo. Também pôs no coração do homem o anseio pela eternidade; mesmo assim ele não consegue compreender inteiramente o que Deus fez. 12 Descobri que não há nada melhor para o homem do que ser feliz e praticar o bem enquanto vive.13 Descobri também que poder comer, beber e ser recompensado pelo seu trabalho é um presente de Deus. 14 Sei que tudo o que Deus faz permanecerá para sempre; a isso nada se pode acrescentar, e disso nada se pode tirar. Deus assim faz para que os homens o temam.
Eclesiastes 5.18-20 Assim, descobri que, para o homem, o melhor e o que mais vale a pena é comer, beber, e desfrutar o resultado de todo o esforço que se faz debaixo do sol durante os poucos dias de vida que Deus lhe dá, pois essa é a sua recompensa. 19 E quando Deus concede riquezas e bens a alguém e o capacita a desfrutá-los, a aceitar a sua sorte e a ser feliz em seu trabalho, isso é um presente de Deus. 20 Raramente essa pessoa fica pensando na brevidade de sua vida, porque Deus o mantém ocupado com a alegria do coração.
Eclesiastes 8.12-15 O ímpio pode cometer uma centena de crimes e apesar disso, ter vida longa, mas sei muito bem que as coisas serão melhores para os que temem a Deus, para os que mostram respeito diante dele. 13 Para os ímpios, no entanto, nada irá bem, porque não temem a Deus, e os seus dias, como sombras, serão poucos. 14 Há mais uma coisa sem sentido na terra: justos que recebem o que os ímpios merecem, e ímpios que recebem o que os justos merecem. Isto também, penso eu, não faz sentido. 15 Por isso recomendo que se desfrute a vida, porque debaixo do sol não há nada melhor para o homem do que comer, beber e alegrar-se. Sejam esses os seus companheiros no seu duro trabalho durante todos os dias da vida que Deus lhe der debaixo do sol!
Eclesiastes 9.7-10 Portanto, vá, coma com prazer a sua comida e beba o seu vinho de coração alegre, pois Deus já se agradou do que você faz. 8 Esteja sempre vestido com roupas de festa, e unja sempre a sua cabeça com óleo. 9 Desfrute a vida com a mulher a quem você ama, todos os dias desta vida sem sentido que Deus dá a você debaixo do sol; todos os seus dias sem sentido! Pois essa é a sua recompensa na vida pelo seu árduo trabalho debaixo do sol. 10 O que as suas mãos tiverem que fazer, que o façam com toda a sua força, pois na sepultura, para onde você vai, não há atividade nem planejamento, não há conhecimento nem sabedoria.
Eclesiastes 11.5 Assim como você não conhece o caminho do vento, nem como o corpo é formado no ventre de uma mulher, também não pode compreender as obras de Deus, o Criador de todas as coisas.
Ecleiastes 11.9-10 Alegre-se, jovem, na sua mocidade! Seja feliz o seu coração nos dias da sua juventude! Siga por onde seu coração mandar, até onde a sua vista alcançar; mas saiba que por todas essas coisas Deus o trará a julgamento. 10 Afaste do coração a ansiedade e acabe com o sofrimento do seu corpo, pois a juventude e o vigor são passageiros.
Eclesiastes 12.1 Lembre-se do seu Criador nos dias da sua juventude, antes que venham os dias difíceis e se aproximem os anos em que você dirá: “Não tenho satisfação neles”;
Eclesiastes 12.13-14 Agora que já se ouviu tudo, aqui está a conclusão: Tema a Deus e obedeça aos seus mandamentos, porque isso é o essencial para o homem. 14 Pois Deus trará a julgamento tudo o que foi feito, inclusive tudo o que está escondido, seja bom, seja mau.
Originalmente publicado em portugues.logos.com