Vida prática

Pecadinho e pecadão? O ensino do Antigo Testamento.

IMG_0002É comum ouvir cristãos falando que para Deus não existe “pecadinho” e “pecadão”, mas todos os pecados são iguais aos seus olhos. Isso não é verdade! Nenhum pecado é pequeno ou sem importância ao ponto de ser chamado de “pecadinho”, mas existe, sim, uma gradação de gravidade de pecados. Deus olha de maneira diferente para os pecados, considerando uns mais graves do que outros e punindo de maneira mais grave aqueles que cometem tais pecados.

A lei de Israel tem um grande valor didático para os cristãos que vivem na nova aliança. Imagine uma sociedade da qual o legislador foi o próprio Deus? Essa lei não deve ser exemplo de justiça para nós? Na lei escrita por Deus para o seu povo, havia diversos pecados/crimes que deveriam ser punidos com pena de morte e é evidente que tais pecados não podem ser considerados simplesmente como costumes ou questões contingentes à cultura de Israel. Eles foram e continuam sendo pecado.

Na lei do Antigo Testamento, o assassinato intencional era punido com pena de morte (Gênesis 9.6; Êxodo 21.12; Levítico 24.17; Números 35.16-21; Deuteronômio 19.11-13) e esse conceito até mesmo antecede a lei mosaica. Até mesmo certos tipos de “assassinatos indiretos” eram punidos com pena de morte. Suponha, por exemplo, que alguém tivesse um cachorro reconhecidamente violento e essa pessoa descuidasse do animal e ele matasse alguém, tanto o dono quanto o animal teriam que morrer (Êxodo 21.29).

Não era só o assassinato, no entanto, que era punido com pena de morte. Muitos outros pecados também o eram: ferir ou amaldiçoar pai e mãe (Êxodo 21.15, 17; Levítico 20.9), ser um filho contumazmente rebelde (Deuteronômio 21.18-21), sequestro e tráfico humano (Êxodo 21.16; Deuteronômio 24.7), feitiçaria (Êxodo 22.18; Levítico 20.6, 27), coito com animal (Êxodo 22.19; Levítico 20.15-16), prática de ou incitação à idolatria (Êxodo 22.20; 32.25-29; Deuteronômio 13.6-16; 17.2-7), adultério (Levítico 20.10; Deuteronômio 22.22-24), vários tipos de incesto (Levítico 20.11-12, 14), estupro (Deuteronômio 22.25-27); relações sexuais homoafetivas (Levítico 20.13), enganar o cônjuge dizendo-se virgem (Deuteronômio 22.20-21); blasfêmia (Levítico 24.10-16, 23), violação do sábado (Números 15.32-36), ser um falso profeta (Deuteronômio 13.1-5; 18.20) e ignorar o julgamento do sacerdote (Deuteronômio 17.8-13). Os sacerdotes Nadabe e Abiú morreram por oferecer fogo estranho no altar de incenso (Levítico 10). Aqueles que oferecessem seus filhos ao deus Moloque deveriam ser punidos com apedrejamento (Levítico 20.1-5).

Outros pecados, de acordo com a lei mosaica, deveriam ser punidos de diferentes maneiras. Havia pecados em Israel que eram punidos com eliminação do meio do povo, como fazer holocausto ou sacrifício e não o trazer ao tabernáculo (Levítico 17.8-9) e comer sangue (Levítico 17.10). Também havia pecados que eram punidos com danos físicos (Êxodo 21.18-19; Levítico 24.19-20; Deuteronômio 25.1-3, 11-12). O livro de Levítico mostra que diferentes pecados (por ignorância, oculto, voluntário) deveriam ser reparados com sacrifícios diferentes (Levítico 4–6).

O roubo de animais era punido com uma restituição 4 ou 5 vezes maior (Êxodo 22.1) e outros danos materiais eram punidos com restituição (Êxodo 22.5-6, 9; Números 5.5-7), via de regra com uma taxa adicional. Danos causados a animais eram restituídos com base em seu valor econômico (Levítico 24.21). A testemunha falsa era punida com a punição que seu testemunho traria sobre a pessoa inocente (Deuteronômio 19.16-21). O sexo consensual fora do casamento era reparado com casamento ou pagamento de dote em caso do pai não querer dar a filha ao homem que se deitou com ela (Êxodo 22.16).

Diversos pecados em Israel não tinham uma punição específica apensa a eles. Estes eram reparados pelo sistema sacrificial: arrependimento, confissão e derramamento de sangue de um substituto. A continuidade rebelde da prática do pecado, no entanto, traria sobre o povo as maldições previstas na lei (Levítico 26; Deuteronômio 11.26-32, 28.15-68). Até mesmo nos 10 mandamentos existem diferentes bênçãos e maldições relacionadas com mandamentos específicos (Êxodo 20.1-17 e Deuteronômio 5.1-21).

Quando olhamos, portanto, a lei de Israel inspirada por Deus, vemos que havia uma clara distinção entre pecados. Diversos pecados, contra a vida humana, contra os pais, pecados envolvendo sexo ilícito e pervertendo o culto eram punidos com morte, outros com expulsão de entre o povo, outros com punição física e outros não tinham punição específica.

De acordo com a lei mosaica, portanto, não existe nenhum “pecadinho”, pois todos pecados são cometidos contra um Deus totalmente santo e disposto a punir duramente os pecados não confessados e processados com sangue, mas existem, sim, pecados e pecados ainda mais graves, até mesmo aqueles que eram passíveis de morte. O Novo Testamento confirma claramente esse ensino, mas deixaremos essa discussão para um próximo post.

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